Introdução
O século XXI tem-se revelado um século de possibilidades e de inovação, mas também de excessos e de degradação do Meio Ambiente. Apesar dos sucessivos esforços e da sensibilização quer ao nível local, quer ao nível global, a Natureza continua a ser vítima de constantes agressões à sua flora, fauna e recursos, com consequência para o agravamento das condições de existência de milhões de espécies, comprometendo, de igual modo, o ser humano.
Nas últimas décadas, instituições oficiais e ONG preocupadas com questões relacionadas com a temática ecológica têm partilhado relatórios que revelam uma necessidade crescente de adquirir conhecimento sobre como proteger o Meio Ambiente, adotando uma atitude curiosa e de prevenção, mas também uma atitude que vise um relacionamento mais próximo entre ser humano e a Natureza, de modo a criar uma coexistência mais harmoniosa.
Os livros sempre foram uma ferramenta central para a transmissão do conhecimento sobre a temática ambiental. De caráter mais lúdico ou didático, as possibilidades de transmissão de conhecimento são amplas, distribuindo-se por vários géneros, que vão desde as enciclopédias a livros ilustrados, abrangendo todas as faixas etárias. Assim, encontramos várias publicações pensadas para a faixa etária infantojuvenil, apesar de abertas a outros leitores, incluindo os adultos.
Apesar de a produção no âmbito da ficção ser alargada e de qualidade, neste artigo focar-nos-emos nas edições de não-ficção sobre o tema, que têm conhecido novas abordagens e crescido no contexto do mercado editorial português.
Novos paradigmas e tendências da não-ficção: a estética e a arte de resolver e de suscitar questões
A transmissão de conhecimentos de temática ambiental já é um tema frequentemente abordado em várias edições de não-ficção infantojuvenis. Estes livros podem assumir várias vertentes, desde livros informativos, a livros com atividades para estimular o desenvolvimento de algumas capacidades. No entanto, neste estudo focar-nos-emos em livros de não-ficção com caráter informativo, cujo objetivo é alargar o conhecimento dos leitores através de vários tipos de abordagens.
Suscitando perguntas, mas também respostas, é nesta troca frutífera que decorre o processo de aprendizagem das crianças e dos jovens, já que este resulta da “interaction between the child’s thoughts and experiences with materials, ideas and people” (Bredekamp, 1990, p.2, como citado por ).
Embora a investigação na área da Literatura infantojuvenil se tenha centrado, ao longo dos anos, em obras de ficção, tem havido um investimento crescente na não-ficção, com implicações também nos estudos que a ela se dedicam. Merecem destaque alguns títulos recentes, como Verbal and Visual Strategies in Nonfiction Picturebooks (), editado por Nina Goga, Sarah Hoem Iversen e Anne-Stefi Teigland, e a antologia Non-Fiction Picturebooks: Sharing Knowledge as an Aesthetic Experience (), editada por Giorgia Grilli. Trata-se de obras que compilam artigos que analisam e aprofundam o potencial estético deste tipo de publicações, bem como as estratégicas verbo-visuais empregadas para a construção ativa do conhecimento. Embora os estudos identificados se concentrem nos álbuns ilustrados, algumas leituras poderão ser alargadas para outras publicações de maior extensão e com uma maior componente textual, já que, independentemente da sua dimensão e público-alvo, cada vez mais as publicações de não-ficção aprofundam a sua vertente visual e gráfica, com consequências ao nível da qualidade estética. Tendo em conta vários livros de não-ficção publicados nos últimos anos, pode afirmar-se que o livro de não-ficção é cada vez mais um objeto artístico, híbrido e permeável aos desenvolvimentos pós-modernos, que se adapta à era contemporânea e que incorpora influências de várias artes. Trata-se de um objeto completo e complexo, “sophisticated, multimodal and polysemic” () e artístico, que encerra múltiplas possibilidades, e que deixa margem para várias interpretações possíveis, apesar de manter características tradicionalmente associadas à transmissão de conhecimento racional e concreto. No entanto, como Grilli refere:
For while it is obvious that the tangible world exists outside man’s emotional sphere and can be accurately and objectively described by scientific discourse, the profound meaning and significance we attribute to the world depends largely on our ability to feel the world around us as something that triggers our insight and is open to interpretation, something that we can call “our own”. ()
É esta vertente emocional e subjetiva que as novas propostas de não-ficção infantojuvenis também parecem valorizar, conjugando a dimensão didática com uma mais literária e estética, que confronta o leitor com as suas emoções sobre os factos que constituem o mundo, moldando a sua interpretação do mesmo, num ciclo de complementaridade entre a formação intelectual e emocional do leitor. Isto porque “nonfiction doesn’t have to be a literature of facts; indeed, it shouldn’t be” (Sanders, 2018, p. 34, como citado por Grilli, 2021, p. 23), referindo-se à importância do processo de questionamento e não somente o de resolução de problemas.
De modo a atingir estas vertentes e objetivos, o livro de não-ficção infantojuvenil tem investido num caráter mais lúdico e interativo, afastando-se e desassociando-se da ideia de ser um complemento ao manual escolar (). O investimento em elementos paratextuais, como a ilustração, a estrutura gráfica dos volumes e a inclusão de atividades são algumas das estratégias que criam uma “arquitetura” () distinta no livro de não-ficção. Deste modo, apresenta-se ao leitor um itinerário de leitura que nem sempre é linear, alargando as suas possibilidades de interpretação ().
Outra dimensão a ter em conta é a multimodalidade, que consiste na presença de vários sistemas e modos de comunicação numa mesma obra. Apesar de a monomodalidade ter já uma longa tradição na sociedade ocidental (), atualmente, essa situação reverteu-se, tendo-se passado de uma noção de “dupla articulação” onde uma mensagem era uma articulação enquanto forma e enquanto significado, para uma noção de “múltiplas articulações” (p. 4). Tal como Wolfgang Hallet (2018) refere, o rápido desenvolvimento de tecnologias digitais impulsionou o surgimento de novas formas de texto impresso (p. 46). Deste modo, a incorporação de vários recursos semióticos, que funcionam como diversos modos para transmitir a informação, contribuem para o crescimento da multimodalidade. No entanto, como Hallet (2018) indica, “os leitores de romances multimodais precisam de se envolver em atos de significação através de modos semióticos e na construção de significado transmodal” (p. 49), ou seja é necessário, primeiro, um conhecimento complexo do funcionamento de cada modo semiótico, de forma a que o leitor se envolva num ato de leitura enquanto “ato de multiliteracia.”
Estes modos semióticos veiculam vários tipos de discurso e de interação com o leitor, mais ou menos objetivos. Por exemplo, uma mesma ideia representada através da ilustração e de texto apresentará sempre diferenças, as quais suscitam interpretações diferentes e uma maior flexibilidade criativa. Em obras infantojuvenis, tem sido visível, em décadas recentes, um investimento gradual crescente em aspetos paratextuais, cuja interação com o texto implica consequências ao nível da metaficção. Esta abordagem é utilizada não só em prol do didatismo, mas também da própria função lúdica, já que permite diálogos e jogos entre as várias modalidades que entretêm o leitor, que vai descodificando os vários significados presentes no livro. Como Moraes também afirma:
Como é esperado na literatura multimodal, a história não é contada apenas através do discurso verbal. É a partir da articulação entre texto, imagem estática, imagem em movimento, som e experiência tátil que a história se costura e permite ao leitor interagir e se comunicar com o texto. ()
A multimodalidade é, por isso, um dos aspetos sobre o qual mais tem crescido a atenção por parte da investigação no âmbito da não-ficção infantojuvenil, já que, como referem, importa perceber como é que a construção e a validação do conhecimento são realizadas nos livros de não-ficção (). Desde a utilização da ilustração, de peças ou elementos materiais embutidos no livro a componentes áudio, estas estratégias têm sido incluídas numa fatia significativa de produções editoriais mais recentes.
O hibridismo é outra das tendências que se têm feito notar neste segmento editorial, caracterizando-se pela conjugação de características de diversos géneros literários numa só obra. Esta fusão, no entanto, potencializa a utilização e fruição do livro, já que amplia os objetivos e as experiências de leitura. Exemplos de hibridismo são notados em vários livros de não-ficção, que conjugam não só informação factual, como também atividades ou até textos que se aproximam do registo literário. No caso dos volumes não-ficcionais sobre a Natureza, há ainda outras tendências que se enquadram no hibridismo, tais como a conjugação de ilustração científica com uma ilustração mais criativa, que destaca a importância da ilustração nos volumes não-ficcionais, já que esta funciona como “uma lente através da qual é percecionado o texto e a(s) mensagem(ns) que ele contém” (). Estas características contribuem para que o livro de não-ficção se aproxime de uma “hybrid form of art”().
A renovação destas abordagens tem valido vários prémios aos livros desta tipologia, que contribuem para um maior destaque e legitimação da não-ficção, que é alvo de um destaque cada vez maior ao nível nacional e internacional. Destaca-se a criação de uma categoria de Não-Ficção no prestigiado BolognaRagazzi Awards ainda nos anos 90, que tem dado ênfase à qualidade de vários volumes não-ficcionais que têm surgido ao longo dos anos. Não só nos prémios é evidenciada a qualidade das propostas, mas também no destaque atribuído por parte de instituições culturais, como, por exemplo, o Plano Nacional de Leitura, no contexto português, valorizando as potencialidades educativas mas também lúdicas destas propostas, tornando-se um investimento cada vez mais atrativo para editoras.
Análise do Corpus
Esta análise tem como objetivo perceber as novas tendências editoriais dos livros infantojuvenis de não-ficção sobre a Natureza e o meio ambiente. A escolha deste subtema deve-se à importância crescente de uma maior consciencialização ambiental, devido às alterações climáticas que se têm vindo a sentir no planeta. A escolha do mesmo influenciou, naturalmente, os livros presentes neste corpus.
Optou-se por escolher livros de apenas uma editora para identificar as suas tendências e marcas editoriais. Neste seguimento, decidiu-se focar o caso da editora Planeta Tangerina pois apesar de especializada no livro-álbum, começou a investir, nos últimos anos, na criação de volumes não ficcionais. Alguns destes volumes têm sido, por sua vez, enquadrados na coleção Projetos Especiais, coleção onde se inserem todos os livros que pertencem ao corpus. Estes livros têm sido destacados pela crítica, conferindo ainda maior importância à criação e curadoria desta coleção. No panorama internacional, também têm ganhado projeção, graças à venda de direitos de tradução para várias línguas. Outro aspeto que se teve em conta na seleção da editora foi o facto de a Planeta Tangerina ser também um atelier de comunicação. Neste sentido, pretendeu-se perceber como é que a produção editorial incorpora essa vertente e preocupações gráficas nos volumes não-ficcionais.
Nesta análise qualitativa, serão tidos em conta aspetos textuais, tais como os principais temas abordados nas publicações, linguagem utilizada e protótipos textuais, mas também aspetos paratextuais, como a capa, formato, ilustração e paginação, ou design gráfico, cuja importância é destacada por Nikola von Merveldt no artigo Informational Picturebooks (2018). As já referidas novas abordagens na produção de livros infantojuvenis, tais como a multimodalidade e o hibridismo, serão tidas em conta, de modo a perceber como estas estratégias maximizam a experiência e aprendizagem do leitor.
Lá Fora – Guia para conhecer a Natureza
O livro Lá Fora – Guia para conhecer a Natureza (),escrito por Maria Ana Peixe Dias e Inês Teixeira do Rosário e ilustrado por Bernardo P. Carvalho, iniciou a produção de não-ficção por parte da editora Planeta Tangerina. Traduzido em vários países, tem sido, de igual modo, alvo de várias análises e investigações na área da Educação, Estudos Literários e Design (; ; ; ). O volume foi ainda amplamente distinguido pela crítica, tendo-lhe sido concedido o Prémio “Opera Prima”, atribuído pela Feira Internacional do Livro Infantil de Bolonha 2015, o Prémio Best ArtShow Award in DangDang 2016, e distinguido e incluído no “100 Outstanding Picturebooks” (DPICTUS), no Top 100 Best Children Books China 2016 (The News Reading Institute), no Best Children Book Anniversary 2016 (The News Reading Institute), entre outros, já destacados por . De grande extensão, o volume em apreço destaca-se pela sua encadernação em capa dura, que valoriza a sua materialidade. Na capa, o título tem o maior destaque, apelando à curiosidade do que, de facto, haverá “lá fora”, num mundo com tantas tonalidades e mistérios como o nosso. Ainda na capa, deve destacar-se a ilustração simples de silhuetas ou recortes de duas crianças a olharem para baixo, a observarem um caracol. Simbolicamente, esta capa pode representar o respeito e a curiosidade por parte da criança relativamente ao mundo animal e a uma outra espécie: a sugestão do movimento de se baixarem coloca-os o mais próximos possível do caracol, demonstrando abertura e recetividade ao conhecimento e à ligação entre humano e animal, que é o grande objetivo deste livro.
De modo a criar esta conexão entre seres vivos, este guia conta com a colaboração de vários especialistas nas diversas áreas científicas presentes no livro, o que contribui para a criação de um livro didático que vai além de simples orientações e curiosidades. Ainda antes da ficha técnica, destacam-se as guardas iniciais, que servem de introdução ao que o leitor poderá encontrar no livro, apresentando já contornos de várias espécies sobre as quais se falará no miolo, e já revelando uma certa estética que definirá, desde logo, uma linha gráfica que Bernardo P. Carvalho seguirá ao longo do volume. Após a página de anterrosto, a primeira imagem que surge, ocupando uma dupla página, tem um grande potencial narrativo e simbólico, que remete para a ideia de transgressão de barreiras, literal e figurativamente: as barreiras que separam o conforto, a casa, onde tudo é conhecido, do desconhecido e dos mistérios que a Natureza proporciona.
Ao nível da estrutura e secções do livro, Lá Fora começa por apresentar ao leitor uma história sobre o ser humano e a natureza, seguindo-se várias páginas com conteúdos afetos ao objetivo do guia, algumas dicas de como agir e informações sobre o que esperar nos passeios que o livro propõe, entre outros. Entre estas páginas, surgem pontualmente duplas páginas de ilustração recorrendo maioritariamente à técnica em aguarela em monocromia [Figura 1], criando grande impacto visual no momento da leitura, e dando margem ao leitor para estabelecer uma ligação e analisar a inclusão dessa componente imagética naquela secção. Além de complementarem o texto, estas peças visuais permitem várias interpretações e o despertar da atenção do leitor para vários pormenores, mas também para uma maior sensibilidade estética desta secção artística, que facilmente associamos à ideia do livro de não-ficção com amplas potencialidades artísticas, como refere ().
Após a secção introdutória, parte-se para a descoberta das espécies. Cada secção é apresentada, novamente, com uma dupla página que opta pela escolha do azul ou do cor de laranja como cor de fundo, as cores eleitas para a realização deste livro, acompanhada de um contorno que simboliza essa mesma espécie, funcionando como signo e permitindo uma imediata associação por parte do leitor a uma classe.
Utilizando ainda outros elementos do design gráfico, como pequenas notas na margem do livro, que remetem para alguns capítulos ou lembranças, este guia recorre a várias hierarquias de informação, que dispõem o conhecimento de modo orgânico. Deste modo, os paratextos, além de servirem como orientações para a navegação pelo livro, contribuem ainda para a prática de “nonlinear ways of reading, which encourage essential information literacy skills (such as skimming, scanning, etc.” (). Estes paratextos, que podem assumir vários formatos, como tabelas, números de página, apêndices entre outros, são fundamentais para uma disposição variada da informação, com implicações na leitura e também na disposição da informação.
A linguagem pode ser caracterizada como informal, de modo a facilitar a compreensão, não sendo, contudo, infantilizante e não menosprezando, assim, as capacidades interpretativas do leitor. Respondendo a várias questões sobre a natureza, o livro não se limita, contudo, a suscitar a curiosidade com um simples parágrafo. É certo que a resposta é fornecida, mas não sem essa resposta ser acompanhada de uma atividade, geralmente indicada ao lado da informação, que leva o leitor a comprovar os factos veiculados na prática. Quando, por exemplo, o livro explica o porquê de as formigas quase nunca saírem dos seus carreiros, é também sugerido ao leitor que escreva o diário da vida de uma formiga (), atividade que permite dar asas à imaginação do leitor e que obriga a uma observação mais cuidadosa e paciente destes pequenos seres, permitindo um estímulo à comparação e aumentando a curiosidade e o poder de análise. Assim, prova-se a importância de manter a corrente do conhecimento aberta, dando margem para novas perguntas e uma curiosidade constante, tornando o leitor também num cocriador de conhecimento ().
O protótipo textual mais usado no livro é o descritivo e o expositivo, devido ao cariz informativo e educativo do livro, mas há também margem para o protótipo narrativo, quando se fala na longa relação entre humano e natureza, e também para o protótipo injuntivo, quando se sugerem várias atividades complementares ao longo do livro, criando uma simbiose de linguagens que enriquecem o livro também ao nível textual, apesar do seu caráter multimodal e do constante diálogo com as imagens.
Outro aspeto a que se quer dar destaque é o da presença da criança/jovem no livro. Apesar de o livro ser direcionado para o público infantojuvenil, nem todos os livros de não-ficção incluem a criança como parte integrante do mesmo. Neste guia, porém, a figura visual, mas também descrita, da criança é uma constante, valorizando as suas capacidades e incentivando a um contacto próximo com a natureza, tal como as próprias imagens o destacam.
Ao nível da ilustração, e como já foi referido, a sua presença constante amplifica a voz do texto e complementa a informação já disponibilizada ou pode mesmo substituí-lo. Além das imagens a aguarela, e do recurso às cores azul e laranja, encontramos a meio do livro algumas espécies retratadas com uma técnica mais realista [Figura 2], num papel mais lustroso, acompanhadas pelo seu nome científico, o que nos remete de imediato para uma aproximação com a ilustração científica. Também neste caso estamos perante um exemplo de hibridismo. Assim, este volume condensa num só livro características do livro ilustrado, mas também de um manual e/ou guia, de uma enciclopédia ou livro científico, e também de livros “DIY” ou de atividades, que dão margem à criatividade do leitor. Estas características, aliadas ao caráter multimodal do livro, contribuem para que este seja uma edição completa, rica em pormenores e particularmente original no contexto editorial português. Este é um livro que, tal como referem, sugere de modo artístico e interativo que um conhecimento aprofundado sobre a natureza e as suas espécies só poderá surgir através de um contacto próximo com a natureza ().
Um Ano Inteiro – Almanaque da Natureza
Um Ano Inteiro – Almanaque da Natureza (), de Isabel Minhós Martins e ilustrado por Bernardo P. Carvalho, é, à semelhança de Lá Fora, um guia para conhecer a natureza, com ideias e modos de transmissão do conhecimento semelhantes, pretendendo funcionar como um complemento a esse mesmo livro, como informa a editora. Contudo, a grande novidade é a divisão das atividades e informações por cada estação do ano, que pretende aproximar o leitor da natureza e do seu ciclo anual, que contrasta com a divisão por espécies de animais e ecossistemas utilizada em Lá Fora. Outra grande diferença é o formato, já que a editora optou por uma edição em capa mole e de menor dimensão, ideal para ser facilmente transportado para as atividades que o mesmo propõe, em oposição ao volume anterior, de maior dimensão e destinado a consulta. Contudo, mantém-se o cuidado com a materialidade, visível na atenção dada aos paratextos, como é o caso do código de barras ilustrado, que passa a fazer parte da narrativa. Volta a ser destacado, na ficha técnica, o importante papel da revisão científica na construção do conhecimento, legitimando esta publicação, que foi aconselhada pelo Plano Nacional de Leitura em Portugal, tendo ainda sido traduzido para chinês e espanhol. No entanto, e apesar da importância do rigor científico em livros informativos, os livros de não-ficção já não são apenas um repositório de dados e informação, mas sim obras que a selecionam, organizam e interpretam, recorrendo a vertentes visuais e textuais, elaborando uma narrativa própria que leva o leitor a construir o seu próprio conhecimento, tendo também em conta as suas características emocionais. ().
Outra semelhança detetada foram os separadores que se parecem com obras de arte com recurso a várias técnicas. A principal diferença prende-se com o facto de que além dos separadores em aguarela que representam alguns motivos naturais (cuja cor difere consoante a estação do ano, delineando bem, cromaticamente, as secções do livro), observam-se também separadores que incluem um novo recurso semiótico, não utilizado até então: a fotografia, neste caso a preto e branco, com edição posterior em software digital, onde se acrescentam elementos desenhados, quase sempre animais, que pelo total preenchimento a branco acabam por sobressair na imagem [Figura 3]. Pedras que circundam um lago podem ganhar vida e transformar-se num crocodilo, se a imaginação e criatividade do leitor assim o permitirem. Esta mistura de técnicas representa, simbolicamente, a possibilidade de a arte e a criatividade se conjugarem com a realidade, representada na fotografia, sugerindo ainda as possibilidades do livro de não-ficção quando em diálogo com a arte. Ainda como separador, mas desta vez delimitando os meses do ano, encontram-se duplas páginas dedicadas a eles, onde se recorre a uma estrutura narrativa para apresentar alguns factos históricos sobre os mesmos, revelando, uma vez mais, interdisciplinaridade com outras áreas do saber. A título de exemplo, no caso da dupla página dedicada a Agosto, os autores apresentam uma breve explicação histórica da origem do nome atribuído a este mês (relacionado com o imperador romano César Augusto). Além disso, nesse mesmo separador explicam-se as características únicas que Agosto traz consigo e que influenciam a vida natural e animal: por exemplo, as altas temperaturas de dia e de noite podem fazer com que alguns insetos tenham maior atividade e que morcegos e camaleões estejam mais à vista.
Ao nível da paginação, o livro inclui vários elementos distintos ao longo do miolo, como tabelas, esquemas, quadros, ou até pormenores como uma pena [Figura 4], que remetem o leitor para as espécies ou atividades que estão a ser abordadas na vertente textual, funcionando como complemento ou até substituição do texto. Em particular em livros de não-ficção, a ilustração serve como uma importante mediação do conhecimento a ser transmitido, já que muitas espécies que são apresentadas são totalmente desconhecidas aos olhos do leitor, funcionando como um primeiro contacto com a espécie, mesmo que representada de modo mais criativo.
À semelhança do livro anterior, também neste caso a linguagem é informal, predominando os protótipos textuais descritivos e expositivos, onde se expõe a informação sobre a natureza e sobre diferentes espécies, mas dando margem de igual modo a uma linguagem instrucional, devido à presença de atividades e recomendações a ter em conta nos passeios.
Outra diferença prende-se precisamente com as atividades. Apesar de a ausência da figura da criança representada graficamente ser notória, observa-se um maior espaço para a realização de atividades. Ao contrário de em Lá Fora, onde apenas há propostas de exercícios por escrito, neste livro existe um espaço dedicado a tais atividades, abraçando o espaço em branco, que proporciona liberdade criativa ao leitor, que se torna cocriador de um livro que, graças à sua intervenção e curiosidade, se torna único. Estes exercícios, além de implicarem um natural sentido de observação e de atenção minuciosa aos fenómenos e espécies, convidam o leitor a refletir sobre essa experiência de um modo mais amplo, afinando o seu sentido crítico. As últimas páginas do livro são, aliás, construídas como espaço em branco, onde o leitor poderá incluir os seus objetivos para o próximo ano, contribuindo para uma análise mais crítica das suas ações e aguçando a curiosidade para que as propostas do livro não sejam somente aplicadas no ano corrente.
Coloca-se, assim, novamente, a questão do hibridismo, já notada por , dado que este guia intercala atividades, com fotografias, com instruções, informações e com ilustração a aguarela que, apesar dos contornos criativos, se baseia no modelo da ilustração científica. Além disso, o leitor poderá encarar o volume como um diário, já que as suas páginas percorrem todas as semanas do ano. Veja-se ainda que nas últimas páginas do volume se apresenta um complemento com outras fontes informativas, que convida o leitor a alargar ainda mais o seu conhecimento e curiosidade.
Plasticus Maritimus – Uma espécie invasora
Inspirado num projeto da bióloga Ana Pêgo, com o objetivo de sensibilizar para a utilização consciente dos plásticos, Plasticus Maritimus – Uma espécie invasora () presenteia o leitor com uma capa colorida e com uma tipografia única e figurativa, em que cada letra simboliza um importante elemento no livro. A utilização da policromia, frequentemente associada à alegria, tem a intencionalidade de destacar a diversidade de cores que esta “espécie” pode assumir, lembrando que, apesar da sua cor apelativa, é uma espécie que se propaga e que representa vários perigos.
Pela sua pertinência e qualidade, foi distinguido pela crítica com uma Menção Honrosa nos BolognaRagazzi Awards, na categoria “Non-fiction”, atribuído pela Feira Internacional do Livro Infantil de Bolonha (2020), uma seleção para o Prémio Livro Juvenil Ecológico, no Festival du Livre et de la Presse d’Écologie (França, 2021), entre outros.
Ao nível do formato, este segue as mesmas dimensões de Um Ano Inteiro, sublinhando a sua portabilidade, já que também funciona como um guia, com várias sugestões de atividades a serem realizadas, complementado com textos informativos, uma vez mais, revistos por um grupo de cientistas.
Relativamente à ilustração, o livro é orientado por uma forte linha gráfica, que prolonga os contornos coloridos da capa para o interior do livro, aproveitando o uso da dupla página para criar ilustrações ainda mais impactantes ao nível da escala (como visível na Figura 5), o que contrasta com os livros anteriores, onde o uso da dupla página era quase exclusivo da secção dos separadores. Esta técnica potencia o uso do espaço no livro e implica uma leitura mais ampla, permitindo que a imagem dialogue ainda mais com o texto e vice-versa, como se fossem um só. Além disso, este livro inclui várias imagens informativas que deslocam o caráter educativo também para a componente visual, contribuindo para a criação de “visual arguments” (Weidenmann 1994, p.12, como citado por Kummerling-Meibauer and Meibauer, 2021, p.192).
Semelhantemente aos outros guias, antes de partir para a vertente mais prática e de partilha de conhecimento sobre esta espécie que ameaça o planeta, é apresentada a importância de detetar os problemas ambientais que nos rodeiam e também de os combater, sublinhando a importância da criança ativista. Tal como nota, a valorização do ativismo entre as gerações mais jovens possibilita, deste modo, o surgimento de uma nova linha temática a ser abordada na produção editorial ().
Após esta secção, surge o guia de campo propriamente dito, onde, além de informação factual, são propostas atividades. À semelhança de Lá Fora, as estratégias verbo-verbais utilizadas permitem aos autores do livro disponibilizar respostas a perguntas frequentemente colocadas pelos mais jovens, mas também permitem que a corrente de conhecimento e de curiosidade se mantenha aberta. Por exemplo, nas páginas 36 e 37, é fornecida a resposta à questão “Quanto plástico anda no mar?”, mas os autores pedem também uma ajuda ao leitor: “quantos zeros há em 8 milhões de toneladas?” Esta interdisciplinaridade, neste caso com a matemática, prova que um livro de não-ficção pode ir muito além do tema a que se dedica, alargando os horizontes de conhecimento do leitor também noutras áreas. Esta abordagem ao nível verbal faz com que, uma vez mais, os protótipos textuais predominantes sejam comuns aos livros anteriores, revelando uma grande variedade no modo como o conhecimento é transmitindo, sendo que, através destas abordagens textuais, é possível moldar o texto mediante o resultado pretendido: seja o de resumir, complementar ou justificar, associando a parte verbal, por vezes, à parte visual, mediante a hierarquia da informação escolhida.
A representação gráfica da criança também está presente, com grandes ilustrações dedicadas à figura da criança, valorizando a sua capacidade de exploradora e de impulsionadora de mudança, com um papel ativo na mudança de atitudes e de preservação do meio ambiente. A representação da mesma, como já foi referido, é benéfica para servir de modelo, que o leitor poderá replicar.
À semelhança de Um Ano Inteiro, também Plasticus Maritimus inclui várias sugestões de atividades que disponibilizam um espaço de criatividade e liberdade pela forma como incentivam a criação livre. Como resultado da intervenção infantil, nenhum guia será igual a outro, já que cada criança terá uma observação e uma análise diferente e, consequentemente, uma exploração e expressão diferente desses mesmos dados.
Ao nível multimodal, uma vez mais, existe uma valorização do diálogo entre o modo visual (que recorre a ilustrações, tabelas e outros elementos vetoriais) e o textual. A fotografia também é incorporada na secção final do livro, que funciona como uma exposição simultaneamente artística e factual do impacto da presença dos plásticos nas zonas costeiras, com “curadoria” de Ana Pêgo. Recorrendo a vários formatos de paginação, as fotografias da autora são apresentadas, ao longo das páginas, de diferentes modos, o que transmite ao leitor a entrada, metaforicamente, numa galeria, contemplando uma exposição de fotografias.
Outra particularidade neste livro é o seu cariz biográfico, relacionado com as fotografias presentes no volume, já que o livro conta com a autoria da bióloga Ana Pêgo, ativamente envolvida na sensibilização contra este plasticus maritimus nos oceanos. Este livro é, de igual modo, uma expressão da sua relação com o plástico e com esta causa ao longo dos anos.
Esta vertente artística, criada pela conjugação da ilustração (que se enquadra em dupla página, bem como em outras modalidades compositivas, como, por exemplo em vinhetas, que nos remetem para a banda desenhada, como se pode ver na figura 6) mas também das fotografias, aliadas à forte vertente biográfica que caracteriza o livro e em complemento com a componente didática e de atividades, transforma este livro num caso claro de contaminação entre géneros. Deste modo, ele é mais do que um guia educativo: é um livro completo do ponto de vista da informação, mas também da criatividade e do cultivo de uma nova estética nos livros de não-ficção publicados pela editora.
Apanhar Ar, Apanhar Sol
À semelhança de As Duas Estradas (2009) da mesma dupla criativa e da mesma editora, também Apanhar Ar, Apanhar Sol () é um livro que nos apresenta uma dupla perspetiva, sobre o Sol ou sobre o Ar, mediante o lado do livro que definimos como capa e contracapa, desafiando, desde logo, as convenções desses mesmos elementos paratextuais e criando um modo de leitura invulgar, que o transforma quase em livro-objeto, para ser livremente manuseado e descoberto.
O mais recente de todos os livros do corpus apresenta, logo nas folhas de rosto, um jogo interativo entre tipografia e ilustração, unindo as duas num só iconotexto, recorrendo apenas ao jogo entre preto e branco combinados com outras duas cores. Esta opção já se tinha verificado em Lá Fora e, longe de limitar o potencial cromático da obra, tem a capacidade de destacar alguns elementos apenas com estas cores. Assim, podemos ver na ilustração da parte sobre o Ar, como o azul contrasta com a monocromia para destacar a presença do vento que permite a propagação da fala entre as montanhas, o oxigénio que respiramos ou as páginas do livro que folheia. Virando o livro ao contrário, na parte sobre o Sol, o amarelo deste, fonte de calor, contrasta com o sistema solar a preto e branco, está presente nos raios de sol que nos bronzeiam ou no fato de banho que usamos na praia.
A ilustração, menos contida e com um estilo mais divertido e de traço mais livre, desfruta de grande destaque, utilizando a dupla página e ocupando várias escalas e importâncias. O caráter lúdico da ilustração acompanha também o modo textual, que revela uma linguagem mais informal, não desprovido, contudo, do seu rigor científico, não estivessem os revisores científicos destacados logo nas primeiras páginas do livro, valorizando o seu trabalho. Além de falar da escala de Beaufort, da curva de Keeling ou até do surgimento do Sol, há também espaço para conhecimento sobre o impacto do Sol e do Ar no nosso dia a dia e para a explicação de uma vertente mitológica que associamos a estas “entidades”, para provérbios populares relacionados com o ar ou com o vento [Figura 7], ou até o tipo de óculos de sol que existem para nos proteger da radiação ultravioleta e uma chamada de atenção para termos cuidado com as correntes de ar, transição que nos leva de modo criativo ao outro lado do livro. Assim, a ilustração também tem a capacidade de aludir a elementos culturais ou históricos.
Além de ilustrações que complementam a informação, permitindo uma melhor compreensão da mesma, observam-se gráficos ilustrados e outros elementos visuais que não só complementam, como também são, por si só, argumentos relevantes, fazendo notar a importância deste recurso neste livro, onde predominam as questões, as respostas, mas também os espaços para atividades, para aplicar o conhecimento e as curiosidades que estão a ser apreendidas.
Neste volume, não são só o Sol e o Ar que são graficamente representados: também a criança tem um papel de destaque, de modo que a proximidade entre ser humano e elementos da natureza seja comprovada.
O livro, de capa mole e de maior dimensão do que os restantes livros analisados, aproveita o seu tamanho para dar grande ênfase à ilustração, mas também à vertente tipográfica, que beneficia do contraste entre escalas para hierarquizar a informação e para tornar o livro mais interativo e com uma disposição da informação mais orgânica e menos convencional. Juntando a componente pictórica, as ocasionais atividades e o texto educativo, o resultado é um livro que vai além do que está escrito, cujas componentes artísticas permitem várias interpretações por parte do leitor. Este não se foca somente no texto, mas também em vários momentos de confronto, em que ele próprio tem de atribuir significado ao que está diante dos seus olhos, pois há páginas onde, na verdade, pouco texto existe, como na Figura 8 ou nas páginas 46 e 47, onde Bernardo P. Carvalho ilustra um nascer do sol, apenas acompanhado de poucas palavras. Como refere, ainda que aplicado a outro exemplo, o sol e outros elementos da natureza podem ser facilmente descritos com fórmulas, composições ou definições científicas, de modo objetivo e rigoroso. Contudo, a natureza, na sua vastidão e complexidade, desperta diferentes sentimentos para cada contemplador (e também leitor). Uma nova tendência na produção de obras infantojuvenis de não-ficção sobre a temática da natureza parece ser, cada vez mais, a da explicação científica rigorosa, mas, simultaneamente, o aproveitamento do livro e da página como plataforma para a divulgação estética, para o silêncio e também para a análise (essa sim, subjetiva) que cada jovem leitor poderá realizar para perceber qual a sua relação com aquela informação, com aquela imagem e, de modo mais geral, com a natureza.
Considerações Finais
Com esta análise e reflexão, conclui-se que os livros de não-ficção infantojuvenis têm sofrido mudanças significativas do ponto de vista editorial. Cada vez mais são vistos como objetos com potencial não só didático, mas também lúdico e estético. Esta fonte de lazer não só é transmitida através da linguagem textual, mas também da linguagem visual, recorrendo à ilustração e a outras recursos gráficos para complementar o texto, mas também para multiplicar as possibilidades de interpretação e de análise. Com um design gráfico cuidado, que atribui identidade visual e qualidade estética ao livro, e conjugando características típicas de vários géneros literários, o produto final revela-se um objeto veiculador de mensagens complexas, recorrendo a várias linguagens, fazendo notar o seu hibridismo.
Sendo a proteção do Meio Ambiente e da natureza uma necessidade urgente, este artigo procurou perceber como é que os livros de não-ficção da editora Planeta Tangerina expõem os conteúdos afetos ao tema e que estratégias verbo-visuais utilizam para tal. Além disso, foram identificadas quais as novas abordagens educativas utilizadas por esta editora para cultivar uma literacia ecológica, cada vez mais necessária na atualidade. A análise permitiu concluir que há abordagens comuns que possibilitam identificar uma linha editorial, que acaba por seguir algumas tendências já apontadas por outros investigadores.
O design é a grande aposta em todos estes volumes, que apresentam uma linha gráfica distinta para cada livro, sempre em articulação com o texto, estabelecendo duas principais modalidades de transmissão de conhecimento. Este cuidado é evidenciado na estrutura e hierarquização da informação, bem como nos paratextos, que valorizam as propostas.
A ilustração revela-se um elemento estruturante da publicação, uma vez que não serve apenas de complemento, mas também de substituição da vertente textual, facilitando a veiculação da informação. Ora ocupando a dupla página, ora estando menos destacada, recorre a técnicas tão diferentes como um simples contorno a caneta ou a aguarela. É de destacar que a ilustração pode assumir contornos mais criativos ou mais realistas, permitindo conjugar ilustração mais livre com ilustração de influência científica, que pretende representar com mais realismo algumas espécies.
A materialidade é também uma preocupação da editora, investindo numa edição de capa dura para o livro mais extenso, mas optando por formatos mais portáteis, de capa mole, tendo em linha de conta o caráter prático dos livros. A escolha do papel é semelhante em todos os volumes, excetuando um caderno em Lá Fora cuja qualidade e brilho pretendem ressaltar o pormenor da ilustração científica.
Ao nível textual, apesar de a valorização e o rigor científico na escrita serem transversais, a linguagem utilizada é, no entanto, informal e predominantemente expositiva, mas dando espaço a secções mais narrativas ou até injuntivas, com instruções de atividades ou passeios que complementam de modo mais prático e ativo a aprendizagem. Aliás, os livros fazem questão de manter uma componente mais histórico-cultural e narrativa, alargando as áreas do conhecimento sobre as quais os livros incidem.
As propostas combinam características biográficas, artísticas, informativas e experimentais, revelando o seu caráter híbrido, e tornando cada livro multifacetado e com diversas ambições artísticas, didáticas e lúdicas. No entanto, todas as propostas atribuem uma margem criativa e de ação ao leitor, que o incentiva a pôr em prática os conhecimentos aprendidos e continuar, autonomamente, uma busca por mais informação.
A presença da criança representada graficamente é também uma constante, que permite criar um ponto de identificação entre o leitor e o livro, promovendo o entusiasmo para a utilização do mesmo e valorizando as capacidades de cada leitor. Porém, as possibilidades de leitura são também alargadas a outras faixas etárias, já que a curiosidade que os livros promovem, bem como a surpresa suscitada por novas abordagens, têm capacidade de atrair diferentes perfis de leitores.
Esta linha editorial que a editora Planeta Tangerina adota é reveladora de uma grande atenção a novas tendências editoriais educativas e inovadoras, que transformam o livro de não-ficção num livro ainda mais completo e polissémico, com várias possibilidades de utilização e fruição.
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Notas
[1] Aliás, como Hallet (2018) propõe, as várias modalidades ou modos semióticos têm impacto no desenvolvimento do enredo, ação e personagens (pp. 64-65) tendo também funções culturais, através, por exemplo, da utilização da metaficcionalidade ou até de reflexões críticas (p. 69).
[2] O livro foi traduzido para chinês, albanês, checo, neerlandês, inglês, alemão, coreano, polaco, russo e espanhol.
[3] Aliás, como refere, o tema do impacto ambiental do plástico tem sido cada vez mais abordado e tem ganhado uma maior visibilidade no contexto editorial, contribuindo para uma maior sensibilização para o tema ().
[4] Neste domínio, no livro A Literature of Questions: Nonfition for the Critical Child (2018) o autor Joe Sutliff Sanders defende que livros que apresentam questões abertas para os leitores jovens estimulam a curiosidade e exploração por parte da criança. Os conteúdos interativos bem como conteúdos visuais apelativos contribuem para o desenvolvimento crítico dos leitores jovens, pelo que este tipo de livros informativos revelam-se de elevada importância para o seu desenvolvimento.