Contido principal do artigo

Maria Teresa Brocardo
Universidade Nova de Lisboa - NOVA FCSH
Portugal
http://orcid.org/0000-0003-0667-2839
Biografía
Vol 11 (2019), Pescuda, páxinas 167-196
DOI https://doi.org/10.15304/elg.11.5135
Recibido: 17-05-2018 Aceptado: 15-10-2018 Publicado: 30-07-2019
Copyright Como citar

Resumo

Em português contemporâneo, verbos como considerar e entender contrastam nos seus usos mais ‘lexicais’, mas aproximam-se no seu funcionamento em construções nas quais são gerados valores caraterizáveis como epistémicos, no sentido em que há uma marcação linguística da validação subjetiva do que é expresso. No presente trabalho pretende-se investigar os fatores que terão determinado, em diacronia, a emergência desses valores, vindo, portanto, a determinar uma convergência (necessariamente não plena) entre considerar e entender nos seus usos (mais) gramaticais, sempre considerando a oposição ‘lexical’ / ‘gramatical’ como uma oposição não discreta. Tendo em vista este objetivo, apresentam-se e discutem-se dados relativos a consirar e entender recolhidos em textos dos períodos antigo e médio da história da língua portuguesa (séculos XIII a XV), que foram selecionados em função da datação dos testemunhos, diversidade genológica e fiabilidade das edições. Identificam-se as várias construções em que consirar e entender ocorrem e assinalam-se diferentes tipos de fatores que aparentemente determinam a possibilidade de leituras epistémicas. Os dados levantados evidenciam diferentes fases do processo de emergência de valores epistémicos entre os dois verbos, mas revelam também, aparentemente, a interferência de fatores contextuais do mesmo tipo na emergência desse tipo de interpretação, o que teria determinado a sua tendencial convergência nos usos epistémicos. Conclui-se com breves notas sobre caminhos a explorar no alargamento futuro da investigação, nomeadamente incluindo outras formas / construções em competição, quer com verbos, como achar e julgar, que sincronicamente mostram restrições de ocorrência distintas de considerar e entender, quer com os verbos haver e ter, que exibem funcionamentos tipicamente mais gramaticalizados, e que no passado da língua podiam também, em diferentes construções, ter valores caraterizáveis como epistémicos.

Citado por

Detalles do artigo

Citas

Testemunhos usados como fontes

CAIII = Duarte, Luiz Fagundes. 1986. Documentos em Português da Chancelaria de D. Afonso III (Edição). Lisboa: FLUL. (Dissertação de Mestrado inédita).

CS = Rodrigues, Maria Celeste Matias. 1992. Dos Costumes de Santarém. Lisboa: FLUL. (Dissertação de Mestrado inédita).

DPNRL = Martins, Ana Maria. 2001. Documentos portugueses do Noroeste e da Região de Lisboa: Da Produção Primitiva ao Século XVI. Lisboa: IN-CM.

FD = Roudil, Jean. 2000. Flores de Dereyto [versão em português]. En La Tradition d’écriture des ‘Flores de Derecho’. Construction et étude, Tome I, Vol. I. 200-297. Paris: Séminaire d’Etudes Médiévales Hispaniques de l’Université Paris 13.

FG = Garvão, Maria Helena. 1992. Foros de Garvão. Edição e Estudo Linguístico. Lisboa: FLUL. (Dissertação de Mestrado inédita).

FR = Ferreira, José de Azevedo. 1987. Afonso X. Foro Real. Edição, Estudo Linguístico e Glossário, vol. I. Lisboa: INIC.

LLCP = Brocardo, Maria Teresa. 2006. Livro de Linhagens do Conde D. Pedro. Edição do fragmento manuscrito da Biblioteca da Ajuda (século XIV). Lisboa: IN-CM.

PP = Ferreira, José de Azevedo. 1980. Alphonse X. Primeyra Partida. Edition et Etude. Braga: INIC.

RSB = Costa, Sara Figueiredo. 2007. A Regra de S. Bento em Português. Estudo e edição de dois manuscritos [Alc. 231]. Lisboa: Colibri / FCSH-UNL.

ZCPM = Brocardo, Maria Teresa. 1997. Crónica do Conde D. Pedro de Meneses de Gomes Eanes de Zurara. Edição e estudo. Lisboa: FCG / JNICT.


Outras fontes e recursos citados

CETEMPúblico – Corpus de Extractos de Textos Electrónicos MCT/Público. https://www.linguateca.pt/CETEMPublico

DVPM – Dicionário de Verbos do Português Medieval. http://cipm.fcsh.unl.pt

Houaiss, Antônio & Mauro de Salles Villar. 2009. Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva / Instituto Antônio Houaiss de Lexicografia e Banco de Dados da Língua Portuguesa.

Machado, José Pedro. 19874. Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa, 5 vols. Lisboa: Livros Horizonte.


Outras referências bibliográficas

Brocardo, Maria Teresa. 2006. Haver e ter em português medieval. Dados de textos dos séculos xiv e xv. En Revue de Linguistique Romane 70, 95-122. http://doi:10.5169/seals-400110

Brocardo, Maria Teresa. 2012. O ‘passado do passado’ – alguns dados para a história do pretérito mais-que-perfeito em português. Verba Hispanica 20, 33-48. http://dx.doi.org/10.4312/vh.20.1.33-48

Brocardo, Maria Teresa. 2014. Gramática e texto em diacronia – haver (mais-que-perfeito simples) de + infinitivo em duas crónicas de Zurara. Estudos Linguísticos / Linguistic Studies 10, 39-47.

Brocardo, Maria Teresa. 2017. Verbos (plenos) com valor epistémico em testemunhos portugueses do século XIII. En GRATO 2017 – 5th International Conference on Grammar & Text. Lisboa: NOVA FCSH. (Comunicação inédita).

Berg, Thomas. 2014. Competition as a unifying concept for the study of language. The Mental Lexicon 9 (2), 338-370. https://doi.org/10.1075/ml.9.2.08ber

Casseb-Galvão, Vania C. 1999. O achar no português do Brasil: um caso de gramaticalização. Campinas: Unicamp. (Dissertação de Mestrado). http://repositorio.unicamp.br/handle/REPOSIP/271021

Castro, Ivo. 1999. O Português Médio segundo Cintra (nuga bibliográfica). En Isabel Hub Faria (org.), Lindley Cintra. Homenagem ao Homem, ao Mestre e ao Cidadão. 367-370. Lisboa: Cosmos / FLL.

Cornillie, Bert. 2007. The continuum between lexical and grammatical evidentiality: a functional analysis of Spanish parecer. Rivista di Linguistica 19.1, 109-128. http://www.italian-journal-linguistics.com/wp-content/uploads/06.cornillie.pdf

Cornillie, Bert & Álvaro S. Octavio de Toledo y Huerta. 2015. The diachrony of subjective amenazar ‘threaten’. On Latin-induced grammaticalization in Spanish. En Andrew D.M. Smith, Graeme Trousdale & Richard Waltereit (eds.), New Directions in Grammaticalization Research. Amsterdam: John Benjamins, 187–208. https://doi.org/10.1075/slcs.166.09cor

Cornillie, Bert & Paola Pietrandrea. 2012. Modality at work. Cognitive, interactional and textual functions of modal markers. Accepté par le Journal of Pragmatics. https://hal.archives-ouvertes.fr/hal-00665337

De Saeger, Bram. 2007. Evidencialidad y Modalidad Epistémica en los Verbos de Actitud Proposicional en Español, Interlingüística 17, 268-277. https://dialnet.unirioja.es/servlet/articulo?codigo=2316804

De Smet, Hendrik, Frauke D’hoedt, Lauren Fonteyn & Kristel Van Goethem. 2018. The changing functions of competing forms. Attraction and differentiation. Cognitive Linguistics 29 (2), 197–234. https://doi.org/10.1515/cog-2016-0025

Diewald, Gabriele. 2002. A model for relevant types of context in grammaticalization. En Ilse Wischer & Gabriele Diewald (eds.), New Reflections on Grammaticalization. 103-120. Amsterdam / Philadelphia: John Benjamins.

Diewald, Gabriele. 2006. Context types in grammaticalization as constructions, Constructions SV1-9/2006. www.constructions-online.de, urn:nbn:de:0009-4-6860

Duarte, Inês. 2013. Construções ativas, passivas, incoativas e médias. En Eduardo Buzaglo Paiva Raposo, Maria Fernanda Bacelar do Nascimento, Maria Antónia Coelho da Mota, Luisa Segura & Amália Mendes (coord.), Gramática do Português, vol. I. 429-458. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian.

Enfield, Nick J. 2006. Heterosemy and the grammar-lexicon trade-off. En Felix Ameka, Alan Dench & Nick Evans (eds.), Catching Language. 297-320. Berlin: De Gruyter Mouton.

Fischer, Olga. 2008. On analogy as a motivation for grammaticalization, Studies in Language 32 (2), 336-382. https://doi.org/10.1075/sl.32.2.04fis

Fischer, Olga. 2013. An inquiry into unidirectionality as a foundational element of grammaticalization: on the role played by analogy and the synchronic grammar system in processes of language change, Studies in Language 37 (3), 515-533. https://doi.org/10.1075/sl.37.3.03fis

Freitag, Raquel Meister Ko. 2003. Gramaticalização e variação de acho (que) e parece (que) na fala de Florianópolis. Florianópolis: Universidade Federal de Santa Catarina. (Dissertação de Mestrado). http://repositorio.ufsc.br/xmlui/handle/123456789/85498

Heine, Bernd. 2002. On the role of context in grammaticalization. En Ilse Wischer & Gabriele Diewald (eds.), New Reflections on Grammaticalization. 83-101. Amsterdam / Philadelphia: John Benjamins.

Heine, Bernd. 2003. Grammaticalization. En Brian Joseph & Richard D. Janda (eds.), The Handbook of Historical Linguistics. 575-601. Cambridge USA / Oxford UK: Blackwell.

Heine, Bernd & Tania Kuteva. 2002. World Lexicon of Grammaticalization. Cambridge: Cambridge University Press.

Hopper, Paul J. & Elizabeth Closs Traugott. 20032. Grammaticalization. Cambridge: Cambridge University Press.

Lehmann, Christian. 2005. Theory and Method in Grammaticalization. Zeitschrift für Germanistische Linguistik 32/2, 152-187.

Noonan, Michael 20072. Complementation. En Timothy Shopen (ed.), Language typology and syntactic description, vol. II, Complex constructions. 52-150. Cambridge: Cambridge University Press. http://crossasia-repository.ub.uni-heidelberg.de/206/; doi: 10.11588/xarep.00000206

Oliveira, Fátima & Amália Mendes. 2013. Modalidade. En Eduardo Buzaglo Paiva Raposo, Maria Fernanda Bacelar do Nascimento, Maria Antónia Coelho da Mota, Luisa Segura & Amália Mendes (coord.), Gramática do Português, vol. II. 623-693. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian.

Pinto de Lima, José. 20142a. On evidential verbs in German and Portuguese: The grammaticalization of scheinen and parecer. En José Pinto de Lima, Studies on Grammaticalization and Lexicalization. 117-124. Muenchen: Lincom.

Pinto de Lima, José. 20142b. Sobre a gramaticalização de al. drohen e pt. Ameaçar. En José Pinto de Lima, Studies on Grammaticalization and Lexicalization. 125-137. Muenchen: Lincom.

Pinto de Lima, José. 20142c. Speech act verbs and the coding of evidentiality in Portuguese. En José Pimto de Lima. Studies on Grammaticalization and Lexicalization. 139-160. Muenchen: Lincom.

Raposo, Eduardo Buzaglo Paiva Raposo. 2013. Orações predicativas e predicações secundárias. En Eduardo Buzaglo Paiva Raposo, Maria Fernanda Bacelar do Nascimento, Maria Antónia Coelho da Mota, Luisa Segura & Amália Mendes (coord.), Gramática do Português, vol. II. 1285-1356. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian.

Santos, Gabriela Loureiro dos, Ludmila Fonseca & Meiriele da Cruz Pereira. 2013. A gramaticalização do verbo achar no português do Brasil sob um ponto de vista diacrônico. ReVeLe 5, 1-17. http://dx.doi.org/10.17851/2317-4242.5.0.97-113

Smirnova, Elena. 2012. On some Problematic Aspects of Subjectification. Language Dynamics and Change 2, 34-58. https://doi.org/10.1163/221058212X653076

Squartini, Mario. 2007. Investigating a grammatical category and its lexical correlates. Italian Journal of Linguistics, 19.1, 1-6. http://www.italian-journal-linguistics.com/wp-content/uploads/01.squartini.pdf

Traugott, Elizabeth Closs. 1989. On the Rise of Epistemic Meanings in English: An Example of Subjectification in Semantic Change. Language 65 (1), 31-55. http://www.jstor.org/stable/414841

Traugott, Elizabeth Closs. 2003. Constructions in Grammaticalization. En Brian Joseph & Richard D. Janda (eds.), The Handbook of Historical Linguistics. 624-647. Cambridge USA / Oxford UK: Blackwell.

Traugott, Elizabeth Closs & Graeme Trousdale. 2013. Constructionalization and Constructional Changes. Oxford: Oxford University Press.

Votre, Sebastião Josué. 2004. Integração sintática e semântica na complementação verbal. En Sebastião Josué Votre, Maria Maura Cezario & Mário Martelotta (eds.), Gramaticalização. 11-49. Rio de Janeiro: Faculdade de Letras UFRJ.

Ziegeler, Debra. 2011. The grammaticalization of modality. En Heiko Narrog & Bernd Heine (eds.), The Oxford Handbook of Grammaticalization. 595-604. Oxford: Oxford University Press.