1. Introdução
As datas comemorativas desempenham um papel crucial na dimensão simbólica e antropológica das sociedades, servindo como marcos temporais que ajudam a estruturar a perceção coletiva do tempo e da história. Elas não apenas marcam eventos históricos ou ciclos naturais, mas também são momentos de reafirmação de identidades coletivas, valores sociais e laços comunitários. A celebração de datas comemorativas é uma prática cultural que permite às comunidades honrar a sua herança, lembrar os acontecimentos significativos e celebrar figuras históricas que moldaram os seus valores e tradições. Através dessas celebrações, as sociedades transmitem conhecimentos e valores de geração em geração, fortalecendo o sentido de pertença e a continuidade cultural.
Do ponto de vista antropológico, as datas comemorativas são fenómenos sociais que refletem as crenças, os valores e as estruturas de poder numa comunidade. Elas são instâncias de atuação cultural que envolvem rituais, símbolos e narrativas, os quais trabalham para construir e manter a coesão social, legitimar instituições sociais e políticas e negociar identidades. Por exemplo, a celebração de datas nacionais pode reforçar a identidade nacional e a unidade, enquanto festas religiosas podem reafirmar crenças espirituais e a coesão da comunidade de fiéis. Essas comemorações são, portanto, atos simbólicos carregados de significado, que desempenham funções importantes na organização social e na manutenção da ordem cultural ; .
A Revolução dos Cravos, ocorrida em 25 de Abril de 1974, é um evento de profunda relevância na história contemporânea de Portugal, marcando o fim de quase meio século de ditadura e o início de um processo de democratização no país. A celebração dessa data não apenas homenageia a coragem e o sacrifício dos que lutaram pela liberdade e justiça, mas também serve como uma recordação vital da importância da democracia, da liberdade de expressão e dos direitos humanos. Através da memória coletiva e da celebração da Revolução dos Cravos, assim apelidada porquanto não violenta , reafirma-se o compromisso da sociedade portuguesa com os valores democráticos e a resistência contra formas de opressão. assinala que “Trata-se, em alguns casos, de subsidiar o enriquecimento de uma memória colectiva, mítica e simbólica, ligada à construção da identidade nacional e da consciência social.”
Comemorar a Revolução dos Cravos é também uma forma de educar as novas gerações sobre a história de Portugal e os custos da liberdade. Esta data comemorativa oferece uma oportunidade para uma reflexão sobre o passado e sobre como as conquistas democráticas devem ser constantemente defendidas e valorizadas. Através da celebração anual deste dia, Portugal não apenas presta homenagem àqueles que lutaram pela democracia, mas também reforça a identidade nacional baseada em valores de liberdade, igualdade e fraternidade. Assim, a Revolução dos Cravos permanece um símbolo poderoso de transformação e esperança, inspirando continuamente a sociedade portuguesa a valorizar e proteger os princípios democráticos .
Ao longo deste ensaio, abordaremos a representação visual da iconografia da Revolução dos Cravos em capas de obras de literatura para a infância e a juventude publicadas em datas comemorativas da Revolução.
Este estudo vem responder a uma lacuna detetada na revisão bibliográfica sobre o tema: a reduzida existência de pesquisas exclusivamente centradas na análise de capas de livros de literatura para a infância e a juventude como meio de partilha de mensagens históricas e culturais, particularmente no contexto da Revolução dos Cravos.
2. A Revolução dos Cravos
O conceito de Revolução integra, no seu espectro semântico, semas ligados a uma alteração abrupta e não totalmente previsível de um regime político ou Estado por uma revolta popular, que pode ser violenta ou não violenta , comportando um potencial de mudança. Essa alteração e/ou transformação do regime político gera, frequentemente, mudanças sociais, económicas e políticas rápidas e radicais na sociedade ; ; .
sugere que o conceito de revolução não se deve limitar a uma definição formalizada, mas deve incluir uma compreensão dinâmica das revoluções políticas como parte de uma classe mais ampla de revoluções sociais.
A Revolução dos Cravos, ocorrida a 25 de Abril de 1974, é um acontecimento crucial na história de Portugal, com repercussões várias em múltiplos âmbitos. A queda do regime político autoritário do Estado Novo e a sua substituição por um sistema democrático marca o fim de décadas de opressão e repressão política, abrindo caminho para o sucesso do movimento revolucionário e para a emergência de uma nova ordem política e social. A revolução foi acompanhada por uma rebelião popular ativa, que a distinguiu de um golpe de Estado liderado pelas elites políticas, pela participação ativa das pessoas comuns na luta pela mudança.
Para além da mudança política, a Revolução dos Cravos desencadeou uma série de transformações económicas e sociais relevantes, tornando-a numa “revolução social”. Este período de transição foi descrito por muitos como uma oportunidade para uma reconstrução da sociedade portuguesa, abrindo espaço para o movimento individual, social e histórico, e permitindo a emergência de novas formas de organização e participação cívica. As mudanças provocadas pela Revolução dos Cravos estenderam-se também ao campo educativo e social, propiciando a democratização do ensino e o fim do ensino em regime de segregação por sexos, promovendo a igualdade de oportunidades no acesso à educação e fomentando uma maior coesão social e uma consciência de igualdade de género. No âmbito cultural e artístico, a Revolução dos Cravos abriu portas para a expressão criativa e a diversidade cultural, permitindo o florescimento de novas formas de expressão artística e uma maior liberdade de pensamento e criação.
3. Estudos sobre a Revolução dos Cravos na literatura para a infância e juventude portuguesa
Concebida como acontecimento histórico-político marcante na sociedade portuguesa, e funcionando como elemento agregador e de identidade, sob os pontos de vista antropológico e simbólico, a Revolução dos Cravos teve, naturalmente, fortes reflexos na literatura escrita para os mais novos, ao ponto de, como enfatiza , ser objeto de revisitação e de reinterpretação em momentos marcantes da História.
São múltiplas as publicações que abordam este acontecimento histórico-político na produção literária para a infância e juventude.
analisa a influência da Revolução dos Cravos na literatura portuguesa para crianças e jovens, destacando a presença de temáticas como a resistência contra a ditadura de Salazar e Marcello Caetano e a construção do Portugal democrático em diversos livros. O estudo debruça-se sobre escritores e ilustradores, como Manuel António Pina, António Torrado, Luísa Ducla Soares, Álvaro Magalhães, e João Abel Manta, que não ficaram indiferentes ao marco histórico da Revolução dos Cravos, contribuindo, através das suas obras, para a construção de uma memória necessária às novas gerações educadas em democracia.
Especificamente sobre a análise de capas, o texto destaca que a presença dos cravos vermelhos, símbolo da Revolução, é uma constante tanto nas capas como nas ilustrações dos livros para os mais jovens sobre o tema. É enfatizado que seria difícil encontrar um livro para crianças e jovens relacionado com o 25 de Abril de 1974 que não contenha a representação de um cravo vermelho, evidenciando o impacto profundo e a iconicidade desse símbolo na cultura visual e literária portuguesa pós-Revolução.
O estudo de Ramos (s/d) investiga a representação da Revolução dos Cravos na literatura para a infância portuguesa, enfatizando a atenção dada por autores e editores ao 25 de Abril de 1974, especialmente desde os anos 90. O texto destaca obras de José Jorge Letria, António Torrado, Valdemar Cruz, Manuel António Pina, Álvaro Magalhães, entre outros, como exemplos de publicações que, mediante narrativas histórico-factuais ou metafóricas, procuram transmitir às gerações mais jovens os valores, as esperanças e as conquistas da Revolução, promovendo a manutenção da memória coletiva e da consciência social sobre este momento crucial da história contemporânea portuguesa.
Quanto à análise de capas, o documento não detalha uma análise específica de autores ou obras em particular. Ao invés disso, foca-se na importância da Revolução dos Cravos e na forma como esta é representada na literatura para a infância e juventude, sublinhando o papel dessa literatura na educação das novas gerações sobre o significado do 25 de Abril.
Sob a perspetiva da revisitação de uma memória coletiva, desenvolve, na sua pesquisa, um estudo analítico sobre diversas edições de obras que presentificam a Revolução de Abril. A autora identifica uma variedade de obras literárias que abordam este tema, notando um aumento significativo na produção destas obras principalmente nos anos 90, particularmente em 1999, coincidindo com o aniversário da Revolução. A autora argumenta que estas obras não só contribuem para a consolidação da memória coletiva deste evento histórico entre as gerações mais jovens, mas também refletem a preocupação cívica de vários autores em manter viva a lembrança da revolução e dos valores por ela defendidos. Mediante uma análise detalhada, propõe uma tipologia para estas obras, dividindo-as em categorias como “a História na ficção”, “a História ficcionada” e “livros predominantemente informativos”, cada uma oferecendo perspetivas distintas sobre a Revolução e o seu impacto. Este estudo realça o papel da literatura para a infância e a juventude como meio de educação histórica e formação de uma consciência crítica e cívica nas novas gerações.
A pesquisa, contudo, não menciona especificamente uma análise de capas de livros ou autores analisados nesse contexto, focando-se mais no conteúdo e na classificação temática das obras literárias que abordam a Revolução dos Cravos. O trabalho de é um contributo significativo para o entendimento de como a literatura para a infância e a juventude tem sido usada para transmitir a história e os valores da Revolução de 25 de Abril, evidenciando a diversidade de abordagens e a riqueza do material disponível para o público mais novo em Portugal.
O estudo "A literatura para a infância e a construção da memória: uma leitura de Romance do 25 de Abril em prosa rimada e versificada de João Pedro Mésseder", de , analisa como o autor e o ilustrador revisitam e recriam a Revolução de Abril e as memórias a ela associadas na literatura para a infância. Este trabalho destaca a importância de manter viva a memória do 25 de Abril, não apenas entre as crianças, que não vivenciaram o evento, mas também entre os adultos que, devido à distância temporal, podem não possuir memórias significativas deste período. João Pedro Mésseder utiliza o romance, associado à tradição oral, para ressaltar a relevância do 25 de Abril, apresentando uma narrativa que, embora ancorada em fatos históricos, é enriquecida pela emoção e pela poesia. O estudo aponta para a dimensão épica da obra, em que a sequência de eventos é narrada de forma linear, destacando-se pela sua ligação com a memória coletiva. A análise revela uma clara posição do autor diante dos acontecimentos narrados, enfatizando as consequências sociais, culturais, políticas e económicas da ditadura, em contraste com a liberdade conquistada após a Revolução.
O estudo destaca a capa e a contracapa do livro analisado, ressaltando a sua importância para a compreensão da obra. A capa, combinando as cores simbólicas da bandeira portuguesa e apresentando o protagonista com um cravo, simboliza a revolução e a esperança. A contracapa, que apela à resistência e à continuidade da luta, juntamente com as guardas iniciais e finais, que sugerem o crescimento do cravo, reforça a mensagem de esperança e a necessidade de manter vivos os ideais de Abril. Essa escolha gráfica é interpretada como um meio de transmitir uma identidade cultural ancestral e enfatizar a coletividade e o património compartilhado, enquanto a narrativa em prosa rimada e versificada busca aproximar os leitores do espírito da época retratada.
analisa como a Revolução dos Cravos e os eventos históricos associados têm sido representados na literatura para a infância e a juventude portuguesa. A autora destaca as dimensões éticas e estéticas dessas obras, visando não apenas a educação das novas gerações sobre um período crítico da história portuguesa, mas também a criação literária que envolve o tema.
Relativamente à análise de capas, o texto de menciona especificamente as obras “Anos de Ditadura – Salazar”, “A Luta pelas Colónias – Guerra do Ultramar” e “25 de Abril – Revolução dos Cravos”, todas ilustradas por Carla Nazareth e publicadas pela editora QuidNovi. A autora ressalta como as variações cromáticas nas capas e ilustrações internas são empregues para refletir os momentos históricos retratados, utilizando cores específicas que simbolizam diferentes aspetos da época, como a opressão da ditadura em Portugal (representada pelo uso de preto e branco) e a liberdade e esperança trazidas pela Revolução dos Cravos (destacadas pelo vermelho dos cravos). aponta para a importância dessa escolha cromática e dos elementos visuais na transmissão do contexto histórico e emocional dos livros, contribuindo para a compreensão e aproximação do público infantil aos eventos da Revolução de Abril.
Este estudo evidencia a riqueza e diversidade com que a literatura infantil portuguesa contemporânea aborda a Revolução dos Cravos, não se limitando a uma mera reconstrução factual, mas oferecendo também uma profunda reflexão sobre liberdade, justiça e democracia, essenciais para a formação cidadã das novas gerações.
analisa textos que retratam o importante evento na história de Portugal, a fundação de um governo democrático em 1974, considerando as dimensões estéticas e éticas dessas obras. Os livros combinam conquistas estéticas com intenções de partilha de valores, transmitindo informações precisas sobre a história de Portugal e destacando a importância de valores universais como a liberdade, a paz e a justiça. Na sua análise, aponta a relevância das variações cromáticas, concretizadas pelos ilustradores, para revisitar um período histórico, e partilhar dimensões simbólicas reconhecíveis pelos leitores mais jovens.
, num ensaio sobre a Revolução dos Cravos na Literatura Infantil Portuguesa, explora a intersecção entre história e literatura, examinando como os textos literários podem contribuir para uma compreensão mais profunda dos acontecimentos históricos e promover a educação de cidadãos mais conscientes e participativos. A autora analisa as abordagens técnicas e literárias utilizadas por vários autores que escrevem para crianças e jovens na revisitação da Revolução do 25 de Abril, fornecendo contribuições sobre as diferentes formas como o tema é abordado na literatura, enfatizando a responsabilidade das escolas, das famílias e da literatura na educação das gerações mais jovens sobre os ideais e valores da tolerância, da liberdade e da democracia, para garantir a preservação destes princípios ao longo do tempo.
O trabalho de examina a representação da Revolução dos Cravos na literatura infantil, destacando como este evento marcante é revisitado e reinterpretado para as novas gerações. A autora observa uma tendência predominante para narrativas ficcionais, com um foco significativo nos antecedentes da Revolução, enfatizando a vida sob a ditadura em termos de condições políticas, sociais, económicas e educativas. Notavelmente, esta pesquisa destaca como essas obras muitas vezes culminam no rescaldo imediato da Revolução, retratado como um período de celebração e euforia popular.
O estudo não faz referência explícita à análise de capas de livros de autores específicos, mas oferece uma visão abrangente das tendências temáticas e estéticas da literatura para a infância sobre a Revolução do 25 de abril. Através desta lente, a análise sublinha o interesse duradouro por este acontecimento histórico, atribuindo o seu significado às experiências vividas pelos autores, muitos dos quais testemunharam em primeira mão a Revolução. Essa conexão pessoal, aliada a um intuito pedagógico, molda as estratégias narrativas empregues nesses trabalhos. A pesquisa delineia como essas narrativas, embora enraizadas em fatos históricos, buscam um equilíbrio entre objetivos educacionais e considerações estéticas, promovendo, assim, um envolvimento com o passado que ressoa com os jovens leitores contemporâneos.
apresentam o relato de uma prática integradora no Ensino Básico com duas obras que recriam e revisitam a Revolução dos Cravos e que, no contexto de uma educação para os valores da liberdade, da tolerância e da democracia, ajudaram os estudantes a desenvolver o seu conhecimento histórico. As obras analisadas são O Ladrão de Palavras, de Francisco Duarte Mangas, e A fábula dos feijões cinzentos. 25 de Abril como quem conta um conto, de José Vaz. Este estudo, contudo, não apresenta uma análise específica de capas de livros ou autores em particular. Em vez disso, enfatiza a utilização da literatura infantil como meio para desenvolver uma compreensão mais profunda de eventos históricos significativos e os valores associados a esses eventos, como a liberdade e a democracia. A prática integradora descrita mostra como a literatura pode ajudar os alunos a construir conhecimento histórico significativo e a compreender os valores subjacentes à sociedade democrática.
Balça, Azevedo e Selfa Sastre ; e Balça exploram a representação e a crítica aos regimes autoritários e a promoção dos valores democráticos na literatura para a infância portuguesa, particularmente nas obras de António Torrado. Os estudos destacam como a literatura para a infância, longe de ser ideologicamente neutra, modela realidades que questionam o mundo, sugerindo alternativas para a construção de uma sociedade mais comprometida com valores universais como liberdade, democracia e cidadania.
O foco recai, sobretudo, sobre a obra de António Torrado, um autor que, por meio do humor e da ironia fina, transmite mensagens e valores refletindo as suas crenças políticas. Os artigos analisam vários textos de Torrado, ilustrando como a crítica ao autoritarismo e a promoção da liberdade e da democracia permeiam as suas narrativas. Estes contos são exemplares na forma como abordam a questão do poder, a relação entre governantes e governados, e o questionamento sobre a justiça e equidade na sociedade.
Alguns destes artigos, embora façam uma breve análise às capas dos livros estudados, concentram-se principalmente no conteúdo e na mensagem dos textos de Torrado, sublinhando a importância de mediar a leitura de tais obras com uma perspetiva crítica, visando formar crianças questionadoras e conscientes dos seus direitos e deveres como cidadãos, capazes de contribuir para uma sociedade mais justa e democrática.
analisa o tratamento do tópos da liberdade em três obras contemporâneas de potencial receção leitora infantil: O Tesouro, de Manuel António Pina, Romance do 25 de Abril em Prosa Rimada e Versificada, de João Pedro Mésseder e O Ladrão de Palavras, de Francisco Duarte Mangas.
Um documento ‘online’ disponível no antigo sítio web da Casa da Leitura inclui, para além de estudos sobre o 25 de abril na literatura infantil, uma entrevista realizada a vários ilustradores que, questionados sobre as cores que associam à Revolução e as suas razões, responderam o vermelho, devido aos cravos e às bandeiras (Alex Gozblau, André Letria, António Modesto), tendo José Manuel Saraiva e Susana Oliveira realçado o vermelho e igualmente o verde tropa (o padrão camuflado das fardas). Inquiridos sobre o elemento ou figura que encarna o simbolismo da Revolução, as respostas são mais díspares: Alex Gozblau afirma “Curiosamente não penso nem em cravos, nem chaimites, nem no Salgueiro Maia, nem em militar nenhum. Apenas um rosto feliz de um adulto em cima de uma árvore.” , André Letria indica o militar Salgueiro Maia, António Modesto refere o cravo, mas também “(...) as ruas ocupadas pelas pessoas” , João Caetano assinala “A voz livre e o pensamento activo” , José Manuel Saraiva explicita o cravo e a pomba branca, e Susana Oliveira refere o cravo vermelho.
Todos os estudos aportam contributos para a compreensão da Revolução dos Cravos como um momento de profunda transformação política, cultural e social em Portugal, refletindo sobre a sua representação na literatura e o seu legado para as gerações futuras. Eles demonstram como a literatura constitui um espaço vital para a reflexão sobre a identidade nacional, a liberdade e a democracia, reiterando a relevância da Revolução dos Cravos na construção da memória coletiva portuguesa.
Contudo, a maioria dos estudos centra-se mais no conteúdo semântico das obras analisadas ou no diálogo entre o texto verbal e o texto visual, sendo diminutas as pesquisas exclusivamente sobre as capas enquanto estratégia para a partilha de mensagens históricas e culturais, particularmente no contexto da Revolução dos Cravos.
4. Questão de investigação e objetivos
Este estudo responde à seguinte questão de investigação: como é que este acontecimento histórico da Revolução dos Cravos é dado a ler através das capas de livros de literatura para a infância e a juventude?
O objetivo geral deste estudo é conhecer e compreender os elementos iconográficos que remetem para a Revolução dos Cravos nas capas de obras de literatura para a infância e a juventude. Este estudo tem, ainda, os seguintes objetivos específicos: (i) analisar a representação visual da Revolução dos Cravos em capas de livros de literatura para a infância e a juventude; (ii) identificar a relação entre a evolução da representação visual e a perceção e valores simbólicos associados à Revolução dos Cravos; (iii) identificar temas recorrentes e o seu significado educativo; e (iv) contribuir para a compreensão da importância da Revolução dos Cravos na cultura e educação dos jovens leitores.
O objetivo (i) envolve examinar as características visuais (como cores, símbolos, personagens e cenas representadas) nas capas de livros para crianças e jovens publicados em datas comemorativas da Revolução dos Cravos, identificando como esses elementos contribuem para a narrativa histórica apresentada ao leitor.
O objetivo (ii) busca decifrar como os elementos visuais específicos presentes nas capas dos livros partilham conceitos históricos e políticos da Revolução dos Cravos, e como eles são adaptados para o público leitor.
Para alcançar o objetivo (iii), buscar-se-á catalogar temas recorrentes e símbolos utilizados nas capas dos livros e analisar a sua contribuição para a educação histórica das crianças e jovens.
Finalmente, através da análise das capas de obras literárias, esta pesquisa busca (iv) destacar como os eventos históricos são comunicados e reinterpretados para as gerações futuras, bem como o papel que a literatura para a infância e a juventude desempenha na formação da memória coletiva e na identidade nacional.
5. Metodologia
Este é um estudo qualitativo, de natureza observacional, que se centra na análise visual e interpretativa de capas de livros de literatura infantil.
As ferramentas metodológicas a que recorremos para este estudo incluem metodologias visuais ; e pesquisas sobre o papel do texto gráfico ou visual na construção e amplificação dos sentidos do texto verbal ; ; ; ; ; ; ; ; .
considera que as metodologias visuais oferecem um referencial relevante para a interpretação de materiais visuais e para a compreensão do seu significado cultural e social. Para uma interpretação adequada, é fundamental considerar o contexto de produção e consumo desses materiais, bem como os elementos culturais e históricos que influenciam o seu significado. Fotografias, pinturas, anúncios e filmes são apenas alguns exemplos de materiais visuais que podem ser explorados por essas metodologias, proporcionando contributos valiosos sobre fenómenos sociais, políticos e culturais.
apresentam três tipos de enquadramentos para a análise de picturebooks contemporâneos concebidos como entidades multimodais: (1) frameworks semióticos sociais, (2) frameworks literários e (3) frameworks artísticos. Os autores argumentam que somente através da utilização de uma variedade de frameworks analíticos os investigadores podem compreender a complexidade destes objetos semióticos contemporâneos e o seu papel em contextos educativos.
, num estudo sobre o livro ilustrado contemporâneo para a infância, investigaram as interseções da área do Design com os livros ilustrados contemporâneos e destacaram as contribuições transdisciplinares entre essas áreas, que contemplam aspetos de materialidade, layout, tipografia, qualidades estilísticas do texto e ilustrações, acabamentos gráficos e elementos paratextuais.
assinala que as capas dos livros desempenham um papel crucial ao configurar determinados horizontes de expectativas, servindo como materiais visuais que oferecem uma representação visual do conteúdo do livro. As capas não apenas fornecem uma sugestão visual do género, tema ou cenário da história, mas também influenciam as perceções e interpretações dos leitores. Elementos de design como imagens, cores e tipografia são utilizados para evocar emoções específicas e transmitir mensagens aos potenciais leitores. Além disso, as capas de livros contribuem para o branding global e o marketing de um livro, ajudando-o a destacar-se entre outros títulos e atraindo a atenção de possíveis leitores.
Partindo da leitura dos textos anteriores e baseando-nos em conceitos derivados da teoria linguística sistémico-funcional desenvolvida por e , apresentamos, a seguir, um quadro de análise organizado em três metafunções principais: ideacional, interpessoal e textual. As metafunçõesrepresentam três diferentes dimensões semânticas através das quais a linguagem (e, por extensão, outros sistemas semióticos, como a imagem) organiza e constrói significado. Cada metafunção aborda um aspeto específico da comunicação e do significado, permitindo uma análise mais rica e multifacetada de textos e de imagens.
A metafunção ideacional diz respeito à representação do mundo experiencial, abrangendo como os textos (verbais ou visuais) representam objetos, eventos, ações e relações. Envolve a construção de significados relacionados com a nossa experiência do mundo externo e interno, incluindo a representação de processos, participantes e circunstâncias. Por exemplo, numa capa de livro, as imagens que retratam personagens em ação ou exploram ambientes imaginários cumprem uma função ideacional, ao transmitir aspetos da narrativa ou do cenário da história.
A metafunção interpessoal foca na interação social, tratando das relações entre o autor (ou ilustrador) e o leitor, bem como das relações entre as personagens dentro do texto. Inclui a expressão de atitudes, julgamentos, emoções e a modalidade (como as coisas são apresentadas em termos de necessidade, probabilidade, permissão, etc.). No contexto das capas de livros, elementos visuais que evocam emoção ou estabelecem um olhar direto com o leitor realizam uma função interpessoal, ao buscar criar uma conexão emocional ou ao convidar o leitor para dentro da história.
A metafunção textual relaciona-se com a organização e estruturação do texto (ou composição visual) em si, permitindo que os significados sejam apresentados de forma coerente e acessível ao leitor. Engloba a maneira como os elementos são dispostos numa página, como informação nova e conhecida é organizada, e como diferentes partes do texto se conectam entre si. Numa capa, a disposição harmoniosa de imagens, títulos e outros elementos textuais, cumpre uma função textual, ao guiar a atenção do leitor e ao enfatizar informações-chave.
Estas metafunções permitem uma compreensão abrangente de como os textos criam significados complexos, integrando diferentes dimensões da experiência humana e da interação social. Ao aplicar esses conceitos à análise de capas de livros, podemos explorar a interação entre texto e imagem e entender melhor como esses elementos trabalham juntos para comunicar informação e cativar o leitor.
Fonte: adaptação dos autores a partir de Painter, Martin & Unsworth (2013)
Esta tabela abrange os aspetos cruciais a serem analisados ao interpretar as capas de livros de literatura para a infância e a juventude, permitindo uma compreensão mais profunda das escolhas visuais e textuais e como elas contribuem para a narrativa e atração do livro.
Em complemento a estas ferramentas, utilizaremos como metanarrativa visual o conhecido e icónico cartaz alusivo ao 25 de abril, de Sérgio Guimarães. Este cartaz, porquanto partilha um conjunto de valores, referências e símbolos alusivos à Revolução dos Cravos, permitir-nos-á construir uma narrativa coerente a partir da leitura e interpretação das capas de livros.
5.1 Tributo ao poder da imagem: o impacto do cartaz de Sérgio Guimarães na Revolução dos Cravos
A Revolução dos Cravos foi amplamente difundida por meio de cartazes, grafitis e outras formas de expressão visual espalhados nas ruas, que serviram tanto para mobilizar a população quanto para comunicar ideais e notícias. Esses materiais funcionaram como poderosas ferramentas de propaganda e expressão durante o período revolucionário, destacando a importância da arte e do design gráfico na luta política e social ; . Esses elementos, que integram hoje a memória coletiva, podem ser revisitados, entre outros, na Associação 25 de Abril https://a25abril.pt/) ou no Arquivo Ephemera (https://ephemerajpp.com/)
Um dos símbolos mais poderosos da Revolução dos Cravos foi capturado no icónico cartaz de Sérgio Guimarães (Anexo 1), onde a imagem de um menino loiro, a oferecer um cravo vermelho para ser colocado no cano de uma espingarda G3, segurada por soldados, fala mais alto do que qualquer palavra.
Os elementos da imagem são ricos em significado. Vemos uma criança, com olhar inocente e curioso, estendendo o braço para colocar um cravo vermelho no cano de uma arma G3, segurada por soldados. A arma, que normalmente é um símbolo de violência e opressão, é contraposta pelo cravo, que representa a paz e a liberdade. O fato de ser uma criança a realizar esse gesto evoca a esperança e a pureza, sugerindo uma nova era para Portugal, longe das sombras da ditadura.
A criança está descalça e veste roupas simples, o que pode evocar a ideia de simplicidade e inocência, além de ser um lembrete da natureza humilde e da pobreza da população que ansiava por mudanças sociais e liberdade. A despeito do seu aspeto modesto, a criança é a protagonista do ato simbólico de transformação.
As mãos e os braços dos militares, que aparecem segurando a arma, são vestígios do poder militar que, curiosamente, neste contexto, está a ajudar a promover a mudança. A Revolução dos Cravos foi notável por ser um levantamento militar que resultou numa transição pacífica para a democracia.
A composição da fotografia é intencional e carregada de simbolismo. O cravo vermelho, colocado no cano da arma por uma criança, ilustra a essência da Revolução portuguesa, onde as forças armadas se juntaram ao povo para derrubar uma longa ditadura quase sem derramamento de sangue, substituindo as balas por flores. O uso de uma flor, que geralmente simboliza paz e beleza, emergindo de uma arma, pode ser interpretado como um símbolo do triunfo da resistência pacífica e da esperança sobre a repressão e a violência.
Essa imagem é um exemplo do que chama mito, no sentido semiológico – uma forma de comunicação cultural que transmite e sustenta conceitos e ideologias. Através do uso da semiotização do vestuário e da expressão facial da criança, além da própria composição do cartaz, cria-se uma narrativa que vai além do objeto imediato, evocando a ideia de um novo começo, guiado pela pureza e pela inocência simbolizada pela criança.
No nível denotativo, temos a descrição objetiva: uma criança segurando uma flor colocada no cano de uma arma, contra um fundo azul, com texto indicando “Portugal 25 abril 1974” e o emblema da Associação 25 de Abril. No nível conotativo, esta imagem reflete a libertação de uma nação e o desejo de paz sobre o conflito.
Este cartaz utiliza tanto ícones – a criança como ícone da inocência – quanto índices – a flor como indicador da não violência. Também age como um símbolo no contexto cultural de Portugal para essa época histórica específica. A interação de todos esses elementos confere ao cartaz a sua potente força como artefacto de comunicação, que alude à vitória da democracia sobre a opressão de uma maneira que é, ao mesmo tempo, específica e universal.
O texto em destaque “PORTUGAL 25 abril 1974” referencia diretamente a data do levante militar que culminou na Revolução. O logótipo “A Associação 25 de Abril” no canto inferior esquerdo sugere que esta imagem foi usada como parte dos esforços de memória e celebração daquela que é uma das datas mais importantes da história contemporânea portuguesa.
Visualmente, a imagem emprega uma paleta de cores contrastantes, com o vermelho do cravo a destacar-se sobre o fundo azulado e a arma escura, sugerindo um raio de esperança em meio a tempos sombrios. A textura e a granulação da imagem conferem-lhe um ar nostálgico, remetendo aos materiais de impressão da época.
A relação com o contexto histórico, político e social é íntima e direta, comunicando uma mensagem de otimismo e renovação após um longo período de opressão. A escolha de uma criança para este cartaz evoca a ideia de renascimento e a promessa de um futuro melhor, livre dos conflitos e dificuldades do passado autoritário.
Este cartaz tornou-se uma representação gráfica do otimismo e da esperança que permearam a Revolução, destacando a ideia de que a gentileza e a beleza podem superar a violência e a opressão. A espontaneidade do gesto do menino e a aceitação dos militares em participar dele ressoam com a narrativa de que o movimento militar não foi apenas um golpe, mas sim um levantamento pacífico, com o apoio popular, para restaurar a liberdade.
A escolha do cravo como emblema do movimento não foi por acaso; esta flor, com sua cor vibrante e sua associação com a primavera, simboliza renovação e a mudança. Naquela manhã de abril, os cravos vermelhos, colocados nos canos das armas e nos uniformes dos soldados, representaram uma rutura com o passado e um compromisso com um futuro mais justo e livre.
O trabalho de Sérgio Guimarães, com a sua forte carga emocional e simbólica, reflete não só a arte como veículo de expressão política, mas também a capacidade do povo português em conduzir uma Revolução com humanidade e esperança, transformando armas de guerra em símbolos de paz. É uma lembrança visual poderosa de que, mesmo nos momentos de maior tensão, o desejo de paz e liberdade prevalecem.
Definição do corpus
Considerando o recorte temporal definido – obras publicadas em momentos temporais que coincidem com datas históricas da Revolução dos Cravos (os 20 anos, comemorados em 1994, os 25 anos, em 1999, os 30 anos, em 2004, os 40, no ano de 2014, e 50 anos de aniversário, em 2024) –, o corpus do nosso estudo integra as seguintes obras:
7. Análise dos dados: a representação visual da revolução
Concebidas como elementos decisivos para convidar o leitor a conhecer a obra , as capas selecionadas revelam dados interessantes.
Ao longo das décadas, desde os 20 anos da Revolução dos Cravos em 1994 até ao cinquentenário em 2024, as capas de livros de literatura para a infância e a juventude refletem não só uma celebração contínua do evento, mas também uma evolução nas abordagens artísticas e narrativas. Elementos simbólicos como o cravo, cores vivas representando a bandeira portuguesa, e representações de ação e eventos relacionados à revolução mantêm-se como ponto âncora na comunicação visual destas publicações.
Nas capas dos livros publicados em 1994, de que O Tesouro, de , é um caso paradigmático, percebemos já a utilização de elementos simbólicos e cores para criar uma ligação imediata com a Revolução dos Cravos. O cravo, elemento icónico, que se tornou um símbolo da liberdade e da mudança pacífica, é frequentemente destacado. A paleta de cores, em muitos casos, remete diretamente à bandeira portuguesa, com a presença marcante do vermelho e do verde. Este uso de cores não apenas reforça a identidade nacional, mas também serve para evocar os sentimentos de esperança e de renovação que a Revolução simbolizava.
A capa do livro O Caso da Rua Jau apresenta uma série de elementos que estabelecem uma relação simbólica e intertextual com a Revolução dos Cravos e o contexto histórico de Portugal, refletindo sobre a Ditadura Salazarista e a subsequente liberdade trazida pela revolução. O livro de Mário Castrim, ao abordar as diferenças entre o Estado Novo e o Portugal contemporâneo, busca contextualizar para o público jovem uma realidade marcada por restrições à liberdade, censura e intolerância.
A ilustração de duas figuras jovens de mãos dadas, diante de um cenário urbano simplista, pode sugerir a união e solidariedade necessárias durante os tempos difíceis da ditadura. Este ato pode também representar o apoio mútuo entre as gerações que viveram a transição para a liberdade. A técnica de ilustração simples e acessível é adequada ao público jovem, facilitando a identificação com as personagens e a história.
O uso de cores na capa merece destaque, pois o contraste entre as cores vibrantes do fundo e as mais sóbrias das personagens e do ambiente pode simbolizar o contraste entre a vivacidade da juventude e o opressivo ambiente urbano durante o regime. Este elemento visual alude subtilmente às mudanças trazidas pela Revolução dos Cravos, sem recorrer a símbolos explícitos do icónico cartaz de Sérgio Guimarães. No entanto, o uso do amarelo e vermelho no fundo, pode indiretamente remeter às cores da bandeira portuguesa, evocando sentimentos de patriotismo e mudança.
A organização visual da capa cria um foco nas figuras centrais, as personagens, e no título, que é destacado sem sobrecarregar a ilustração. Isso sugere um compromisso com a narrativa interna e um convite para o leitor explorar a história. A ausência de olhares diretos para fora da imagem pode indicar que o foco está na própria história e não numa comunicação direta com o leitor.
Para um leitor jovem, esta obra pode ser uma introdução cativante e educativa sobre um período histórico significativo do seu país. Através da narrativa e das comparações sugeridas, o jovem leitor pode começar a compreender as enormes mudanças sociais e políticas introduzidas pela Revolução dos Cravos. A estrutura narrativa, que contrasta o passado com o presente, permite que o leitor jovem perceba a importância da liberdade e da democracia, elementos centrais na formação da identidade e dos valores de um cidadão.
Em termos de intertextualidade, a capa pode não ter uma conexão direta e óbvia com o simbolismo mais amplo da Revolução dos Cravos, mas contribui para a narrativa de liberdade e progresso ao apresentar jovens como protagonistas, simbolizando esperança e renovação. A obra de Mário Castrim desafia os leitores jovens a tirar as suas próprias conclusões sobre a história contada, promovendo uma compreensão mais profunda do passado de Portugal e a valorização das conquistas da Revolução dos Cravos.
As capas dos livros publicados em 1999, nos 25 anos da Revolução dos Cravos, oferecem igualmente uma rica tapeçaria visual que transmite, tanto individualmente quanto em conjunto, a essência e os valores desse período histórico.
A capa de Capitães de Abril, de , com ilustrações de José Pedro Costa, é marcada pela sua simplicidade e simbolismo profundo, onde um cravo solitário, delineado contra um fundo vermelho intenso, destila o simbolismo da Revolução. Esta imagem minimalista, apesar de desprovida de ação e personagens, comunica poderosamente através da sua paleta de cores associada à paixão e à luta, capturando o espírito de uma nação que ansiava por mudança. O foco visual é claro, e a organização do espaço transmite uma mensagem unificada e potente.
Era uma vez um cravo, de , com ilustrações de André Letria, retrata soldados estilizados, quase caricaturais, com cravos vermelhos. Esta capa dispensa um cenário elaborado, optando por enfatizar a unidade e o propósito comum através da repetição e formação em fila das figuras militares, que olham diretamente para o leitor, criando um vínculo imediato e um sentido de compromisso. As cores e a tipografia arrojada reforçam a mensagem de solidariedade e coragem que se destacam na memória coletiva da Revolução.
O 25 de Abril contado às crianças... e aos outros, de , complementa e amplia a narrativa visual das capas anteriores. Esta ilustração vibrante e dinâmica de João Abel Manta mostra uma manifestação festiva, onde a presença de livros e cravos nas mãos dos participantes celebra as conquistas da liberdade de expressão e educação. As personagens, estilizadas de forma amigável e desenhadas com linhas claras e cores vivas, evocam a alegria e a inclusão, fundamentais para a compreensão do legado da Revolução dos Cravos.
O Soldado e o Capitão, os Cravos e o Povão, de , com ilustrações de João Caetano, adota uma abordagem mais detalhada e realista, representando um soldado e civis num ambiente urbano, indicando uma narrativa de revolução popular. A composição visual e a paleta de cores desta capa são mais suaves, sugerindo uma reflexão mais íntima sobre o significado da liberdade e da democracia. O leitor é convidado a participar dessa história de triunfo e esperança através da postura do soldado erguendo o punho, uma chamada universal à ação.
Estas capas, cada uma à sua maneira, dialogam com o icónico cartaz de Sérgio Guimarães, especialmente pelo simbolismo recorrente do cravo e a representação da unidade entre militares e civis. Elas servem não apenas como um reflexo visual da Revolução, mas também como uma ferramenta educativa, transmitindo às novas gerações as histórias de coragem, união e esperança que caracterizam esse momento histórico. Através da arte, os jovens leitores são convidados a compreender e a valorizar os princípios de liberdade e de democracia que definiram a Revolução dos Cravos, aprendendo sobre o poder da solidariedade e da expressão pacífica na conformação de uma sociedade mais justa.
As quatro capas de livros publicadas em 2004, no 30º aniversário da Revolução dos Cravos, e que selecionámos para este estudo, apresentam uma variedade de estilos visuais e narrativas que se unem em torno do tema comum da Revolução e dos seus valores.
A capa de 25 de Abril, de Ana Maria Magalhães e Isabel Alçada (2014), ilustrada por Sofia Cavalheiro, utiliza um conjunto de pequenas imagens num grande "25", como se fossem janelas para diferentes momentos. Cada quadro captura cenas variadas, desde soldados até crianças, que ilustram a diversidade das experiências durante a revolução. A capa sugere uma narrativa multifacetada, onde a organização visual das "janelas" dentro do número convida o leitor a explorar a variedade de perspetivas históricas.
Em O Rapaz da Bicicleta Azul, Álvaro Magalhães (2014) apresenta-nos uma capa com cores suaves e ilustração por António Modesto. A imagem transmite tranquilidade e uma sensação introspetiva, com um idoso e uma criança frente a frente, simbolizando talvez a transmissão de memórias e lições de geração para geração. A ilustração estilizada contrasta com a imagem histórica, remetendo a uma abordagem mais pessoal e emocional da história.
A Revolução das Letras, com texto de e ilustrações de Fedra Santos, traz uma capa vibrante e lúdica onde letras antropomorfizadas, cada uma com uma expressão única, celebram sobre um mar de cravos. A capa utiliza a cor e a personificação para criar uma atmosfera divertida e acessível, envolvendo jovens leitores com a história de uma maneira alegre e imaginativa.
Por fim, Salgueiro Maia, de , ilustrado por André Letria, utiliza uma fotografia real do capitão Salgueiro Maia para criar uma conexão direta e realista com os eventos da Revolução dos Cravos. A combinação de imagens reais com ilustrações sugere uma ponte entre o passado histórico e o presente, convidando os jovens a verem-se como parte dessa história contínua.
Apesar das diferenças de estilo — desde o realismo fotográfico até o abstrato e o lúdico —, as capas compartilham uma celebração do espírito revolucionário e a importância da transmissão desses valores aos jovens. O uso do cravo como símbolo persistente ressoa com o cartaz de Sérgio Guimarães, evocando a memória coletiva da liberdade conquistada.
Os jovens leitores aprendem, por meio dessas obras, acerca da complexidade da história e a importância da participação cívica. As capas e as narrativas visuais que elas possibilitam servem como pontes entre as gerações, mostrando que a história da Revolução dos Cravos não é apenas um evento passado, mas uma lição viva de coragem, mudança e esperança. É através dessa variedade de representações que os valores da Revolução são compartilhados, incentivando os jovens a refletirem sobre o passado e a contribuírem para o futuro.
As capas dos livros de 2014, publicados por ocasião do 40º aniversário da Revolução dos Cravos, refletem uma evolução nos símbolos e nas abordagens artísticas em comparação com as décadas anteriores. Este desenvolvimento sugere uma contínua reinterpretação da Revolução, que, embora permaneça fiel a determinados ícones, também se abre para novas perspetivas e métodos de contar a História.
A capa de 25 de Abril, de , ilustrada por Maria João Lopes, apresenta um soldado em primeiro plano, comunicando diretamente por meio de um megafone. Acreditamos, embora a capa o não comprove, que se trata da conhecida personagem histórica de Salgueiro Maia. A presença de civis e um animal ao fundo cria uma cena cheia de vida e diversidade, ressaltando a ação e o envolvimento da comunidade na narrativa da Revolução. As cores suaves e a técnica de ilustração conferem uma sensação de acessibilidade e gentileza.
O Tesouro, de , com desenhos de Pedro Proença, usa ilustrações simples e linhas abstratas, combinando elementos lúdicos como um gato e uma senhora idosa, contrastando com o vermelho vivo do cravo. Esta capa parece explorar a Revolução de uma maneira mais simbólica e metafórica, focando nas relações humanas e nos valores universais.
Era uma vez o 25 de Abril, de , destaca-se pelo seu design gráfico moderno e a utilização de ícones representativos da Revolução numa composição vibrante e repleta de simbolismo. A capa é um mosaico de imagens e palavras que, em conjunto, contam uma história de resistência e de liberdade, reiterando o compromisso com o leitor e enfatizando a importância da participação coletiva.
Salgueiro Maia , ilustrado por António Jorge Gonçalves, utiliza uma fotografia icónica do capitão Salgueiro Maia, uma figura central da revolução. A capa é um claro exemplo de coesão visual e fluxo narrativo, com a imagem histórica oferecendo um ponto de conexão direta com os eventos passados e inspirando o reconhecimento dos valores e ações de liderança.
Em Livro Livre (Francisco Bairrão Ruivo, 2014), a capa explora a liberdade de uma maneira mais abstrata e artística, com linhas que formam pássaros em voo — um símbolo universal de liberdade. A paleta de cores minimalista e o uso de espaço negativo criam uma atmosfera de reflexão e possibilidade, incentivando os leitores a contemplarem os significados mais profundos da liberdade conquistada.
Estas capas, em conjunto com as das décadas anteriores, mostram que os símbolos como o cravo e as representações de ação coletiva permanecem como elementos visuais chave, embora a forma como esses símbolos são apresentados se tenha alterado. As capas de 2014 parecem refletir uma abordagem mais diversificada e contemporânea, refletindo talvez uma geração que não viveu a Revolução diretamente, mas que ainda assim herda e reinterpreta os seus valores.
Os jovens leitores, ao depararem-se com estas obras, aprendem não só sobre a história da Revolução dos Cravos, mas também sobre a importância do envolvimento e da expressão cívica. As capas incentivam a reflexão sobre a liberdade, a democracia e a responsabilidade individual numa sociedade. A alteração nos símbolos e estilos ao longo das décadas sugere uma adaptação à linguagem visual e às sensibilidades de uma nova geração, mantendo a história relevante e dinâmica para os jovens que continuarão a construir sobre o legado do 25 de Abril.
Analisando as capas de livros de literatura para a infância e a juventude publicados em 2024, nos 50 anos da Revolução dos Cravos, observa-se que continuam a honrar os símbolos históricos da Revolução, enquanto exploram novas maneiras de contar a história aos mais jovens, mantendo viva a memória de um período tão significativo.
A capa do livro Era uma vez o 25 de Abril, de , é uma profusão de símbolos em verde e vermelho, as cores da bandeira portuguesa, com elementos que remetem diretamente aos acontecimentos e valores associados à Revolução. Observa-se uma variedade de elementos, como o punho cerrado, a flor de cravo e a palavra "liberdade", que juntos formam uma narrativa visual dinâmica e pedagógica.
Miguel e Kiko no 25 de Abril, de , apresenta uma cena mais contextualizada e realista de uma rua com pessoas, destacando o ato de oferecer cravos, um ato central da Revolução. A paleta de cores suavizada sugere uma abordagem mais tranquila e contemplativa da história.
O livro Abril 25 poemas, de , oferece uma capa com uma ilustração mais abstrata e metafórica. A imagem do cavalo com cravos pode simbolizar a força e o avanço da liberdade. A simplicidade do design contrasta com as capas mais detalhadas, proporcionando um ponto de reflexão mais introspetivo.
O 25 de Abril contado às crianças... e aos outros, de , numa edição graficamente semelhante a outra de 1999, traz uma capa mais lúdica e colorida, com figuras estilizadas e alegres. Esta capa aproxima-se do estilo do cartaz de Sérgio Guimarães, com o uso criativo de elementos visuais que remetem à celebração e à importância do ensino da história.
A capa de O Meu Primeiro 25 de Abril, também de, utiliza elementos gráficos e cores fortes para enfatizar o cravo, um símbolo recorrente que se mantém através das décadas como ícone da Revolução.
Em 25 de Abril, no princípio era o verbo de , a capa mostra um megafone sobre fundo com elementos arquitetónicos, talvez aludindo ao papel do discurso e da comunicação na mobilização das massas e na narrativa histórica.
A escola e os cravos, de , destaca o cravo vermelho sobre um fundo que sugere um desenho infantil, ressaltando a importância de ensinar às crianças o valor da liberdade e da revolução.
As galochas vermelhas, de , oferece uma capa artística, quase poética, com um traço que remete ao desenho infantil, mantendo a vivacidade e a pureza da mensagem revolucionária mediante uma ilustração mais subjetiva e sensível.
Essas capas, embora variadas no estilo, compartilham a missão de ensinar aos jovens sobre a Revolução dos Cravos. A manutenção de certos símbolos, como o cravo, evidencia o desejo de preservar a memória coletiva dos valores associados à Revolução: liberdade, democracia e esperança. As alterações e inovações nos estilos das capas refletem um esforço contínuo de manter a história relevante e acessível, adaptando a narrativa ao contexto atual e ao público mais jovem. Através destas obras, os jovens aprendem sobre a importância do envolvimento cívico e a capacidade de mudança coletiva, compreendendo que a liberdade é um valor que deve ser celebrado e protegido. A literatura para os mais novos continua, assim, a ser um meio vital para a promoção de valores, assegurando que as gerações futuras conhecem, compreendem e valorizam o significado da Revolução dos Cravos.
7.1 Síntese da análise de dados
Ao longo das diferentes décadas, as capas das obras de literatura para a infância e a juventude relacionadas com a Revolução dos Cravos mantiveram uma série de elementos simbólicos e imagéticos que se destacam pela sua persistência e pela forma como foram sendo reinterpretados à luz das novas gerações e contextos socioculturais.
O cravo vermelho surge como o mais proeminente e constante desses símbolos. Representando a liberdade e a mudança pacífica, a flor atravessou os anos como um ícone inalterado da revolução, sendo destaque nas capas quase como um lembrete do otimismo e da esperança que marcaram o 25 de Abril de 1974. As cores da bandeira portuguesa, especialmente o vermelho e o verde, são também recorrentes, servindo como um eco visual dos valores patrióticos e da identidade nacional que a Revolução reforçou.
Outro elemento recorrente é a utilização de cores fortes, especialmente o vermelho que, além de remeter ao cravo, também pode ser associado à paixão, força e coragem, emoções vinculadas à revolução. A simplicidade e a expressividade das ilustrações, muitas vezes com estilos mais abstratos ou estilizados, apontam para uma tentativa de tornar a história acessível e atraente para crianças, que talvez não compreendam ainda toda a complexidade do período histórico.
Relativamente aos contextos, observa-se uma variação significativa. As primeiras edições tendem a focar-se mais nos eventos específicos e nos heróis da Revolução, com capas que apresentam cenas de ação ou personagens militares em destaque. Com o passar do tempo, surge uma tendência para abordagens mais abstratas e simbólicas, como o uso de elementos gráficos ou ilustrações que enfatizam conceitos como liberdade e democracia de forma mais genérica e acessível.
A evolução temporal das capas reflete uma mudança na maneira de contar a história da Revolução dos Cravos. Se inicialmente o foco estava na representação factual e heroica dos acontecimentos, com uma certa ênfase na figura militar e na ação direta, as edições mais recentes parecem buscar uma conexão emocional e educativa mais profunda. As ilustrações tornam-se mais lúdicas, mais coloridas e, em alguns casos, mais focadas na inclusão do público infantil como parte da narrativa, sugerindo que a Revolução pertence a todos e que as suas lições são atemporais.
Esta mudança pode ser explicada pela necessidade de adaptar a narrativa histórica às sensibilidades contemporâneas e ao público jovem. À medida que a distância temporal da Revolução dos Cravos aumenta, a importância de transmitir o seu espírito e valores de forma compreensível e relevante para as crianças de hoje torna-se mais premente. As capas, portanto, não apenas refletem as mudanças estéticas ao longo das décadas, mas também uma consciente evolução pedagógica, que busca manter viva a chama da Revolução para inspirar e educar.
Nos últimos 50 anos, entre 1974 e 2024, Portugal passou por significativas mudanças políticas, culturais e sociais. A entrada na União Europeia, as mudanças económicas, a globalização e os avanços tecnológicos transformaram a sociedade portuguesa. Estas alterações refletem-se na forma como a História é contada e ensinada. A Revolução dos Cravos é agora parte de um passado mais distante, e como ela é lembrada e celebrada pode ter evoluído para atender às realidades de uma sociedade moderna, mantendo os símbolos e valores fundamentais, mas adaptando a mensagem às novas gerações.
Em síntese, as capas das publicações de literatura para a infância e a juventude editadas em datas comemorativas da Revolução dos Cravos não são apenas um reflexo do movimento histórico, mas também um espelho das mudanças na sociedade portuguesa e da contínua luta para manter os ideais revolucionários relevantes e inspiradores para as novas gerações.
8. Conclusão
Este estudo deu resposta à questão de investigação ao demonstrar que as capas de livros de literatura para a infância e a juventude, publicadas em datas comemorativas da Revolução dos Cravos, desempenham um papel crucial na educação das novas gerações sobre esse importante evento histórico. Concretamente, foram cumpridos os quatro objetivos enunciados:
- (i)
Analisar a representação visual da Revolução dos Cravos em capas de livros de literatura para a infância e a juventude.A representação visual da Revolução dos Cravos em capas de livros de literatura para a infância e a juventude é predominantemente marcada pela presença de símbolos fortes e facilmente reconhecíveis, como o cravo vermelho, que se tornou ícone da resistência e da liberdade. Estas imagens são muitas vezes acompanhadas por cores vivas, como o vermelho e o verde, aludindo à bandeira nacional de Portugal, simbolizando o patriotismo e a renovação do país. As capas dos livros tendem a apresentar estes elementos de uma forma que é simultaneamente respeitosa da história e acessível às crianças, muitas vezes usando personagens jovens ou animais para criar uma conexão emocional com os leitores. Estas escolhas visuais ajudam a transmitir os conceitos de revolução e mudança social de uma maneira que é compreensível e atraente para o público mais jovem.
- (ii)
Identificar a relação entre a evolução da representação visual e a perceção e valores simbólicos associados à Revolução dos Cravos. Ao longo do tempo, a evolução da representação visual da Revolução dos Cravos nas capas de livros reflete uma mudança na forma como a história é contada e percebida. Inicialmente, as representações eram mais literais e realistas, refletindo provavelmente a proximidade temporal dos eventos e a necessidade de documentá-los com precisão. Com o passar dos anos, observa-se uma tendência para abordagens mais estilizadas, abstratas e até mesmo lúdicas. Esta evolução indica uma integração da Revolução dos Cravos no imaginário cultural que permite uma interpretação mais livre e uma conexão mais simbólica, destacando valores como a democracia, a liberdade e a paz de uma forma que ressoa com as novas gerações e os seus entendimentos contemporâneos do mundo.
- (iii)
Identificar temas recorrentes e o seu significado educativo. Temas recorrentes como a liberdade, a paz e a solidariedade são apresentados nas capas dos livros não apenas como valores históricos, mas também como valores universais e atemporais. O cravo vermelho, por exemplo, continua a ser usado para ensinar às crianças a importância da coragem e da resistência pacífica. A inclusão de multidões, punhos erguidos e elementos da natureza, como pássaros ou o sol, em algumas capas, simbolizam a união, a esperança e o renascimento, respetivamente. Estes elementos servem como ferramentas educativas que compartilham lições de cidadania ativa e a importância de lutar por ideais justos.
- (iv)
Contribuir para a compreensão da importância da Revolução dos Cravos na cultura e educação dos jovens leitores. A persistência da Revolução dos Cravos na cultura e educação dos jovens leitores é assegurada por estas capas que, funcionando como primeiras impressões dos livros e, nesse sentido, criando um horizonte de expetativas, capturam a imaginação e despertam a curiosidade. Elas contribuem para a formação de uma consciência histórica nas crianças e incentivam o diálogo sobre os temas de justiça social, democracia e liberdade. Além disso, estas representações visuais são reflexo de como uma nação escolhe recordar e honrar os momentos mais significativos da sua história, reafirmando a importância do evento da Revolução dos Cravos como fundamental para a identidade coletiva portuguesa e como pilar da democracia atual.
Assim, através da análise qualitativa e observacional das capas, foi possível identificar uma diversidade de representações visuais que ajudam a construir e a consolidar a memória coletiva sobre a Revolução dos Cravos e que, partilhadas com os leitores mais jovens, promovem valores fundamentais para a formação cidadã e democrática, estimulando um sentido de pertença ao grupo.
Este estudo pode ser complementado por outras investigações que explorem outras dimensões da representação da Revolução dos Cravos e dos seus valores em diferentes meios e contextos educativos.
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