Orações relativas apositivas em português: entre a sincronia e a diacronia
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Resumen
Este estudo apresenta uma análise comparativa das relativas apositivas introduzidas pelo pronome relativo o qual em português europeu contemporâneo e na diacronia do português. Do ponto de vista descritivo, existe um contraste marcado entre as propriedades das relativas apositivas com o qual na sincronia e diacronia do português. Este contraste é descrito tendo em conta os seguintes parâmetros: (i) núcleo interno; (ii) extraposição; (iii) pied-piping; (iv) antecedente oracional; (v) antecedente descontínuo; (vi) coordenação do pronome relativo com um grupo nominal; (vii) força ilocutória; (viii) conjunção coordenativa. A análise que se propõe para explicar os contrastes observados toma como referência o quadro da Teoria de Princípios e Parâmetros (Chomsky 1981 e trabalhos subsequentes), na sua versão minimalista (e.g., Chomsky 1993, 1995). A mudança linguística é interpretada com base no modelo proposto por Lightfoot (1991, 1999 e trabalhos posteriores), que estabelece uma relação estreita entre mudança linguística e aquisição da linguagem. A ideia central é a de que as relativas apositivas não envolvem apenas uma estrutura sintáctica, podendo ser geradas por coordenação especificante (cf. De Vries 2006) ou por elevação do núcleo (cf. Kayne 1994, Bianchi 1999). Aplicando esta abordagem não unitária aos contrastes observados em português, propõe-se que em estádios anteriores do português as orações apositivas introduzidas por o qual são geradas por coordenação especificante, enquanto em português europeu contemporâneo são geradas por elevação do núcleo. Esta hipótese deriva as propriedades contrastivas acima mencionadas, fornecendo também uma base teórica sólida para explicar a mudança que ocorreu na história do português.
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