Dados diacrónicos da estrutura durativa em português e em galego
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Resumo
O presente estudo tem como objetivo primordial refletir e problematizar o funcionamento sintático e semântico das atuais construções durativas construídas, sob o ponto de vista sintático, com gerúndio vs. infinitivo gerundivo em formas ditas perifrásticas. A existência destas duas estruturas, com a mesma semântica, obriga a tentar saber por que existe essa duplicidade: socorrer-nos-emos, para o efeito, de dados diacrónicos. Sendo duas perífrases com uma semântica determinada (ideia de desenvolvimento da ação), ir-se-á procurar a estrutura latina que indicava o mesmo significado, isto é, igualmente uma perífrase, mas com constituintes diferentes. Estudar-se-á a substituição da perífrase latina pelas correspondentes portuguesas e galegas, tentando demonstrar um conjunto de mudanças que colaboram para uma explicação da criação da variante nova na superfície frásica. Por outro lado, atendendo aos constituintes referidos [v. auxiliar + (conector) + v. principal], far-se-á uma comparação entre o latim e o português e o galego (o verbo auxiliar muda do latim – esse – para o português e o galego – estar – assim como o verbo principal que detém a significação, no latim, um particípio de presente, e no português e galego o gerúndio ou o infinitivo gerundivo). Deste modo, a alteração dos constituintes exige, naturalmente, um estudo das formas latinas. Terá especial relevo o gerúndio, com funções no latim muito diferentes das que possui hoje nas línguas românicas e semelhantes ao inglês, língua com a qual se comparará (para uma melhor compreensão da sua pretérita função). Ampliar-se-á a comparação a outras línguas românicas para examinar as diferentes ou parecidas soluções. Com todos os dados coligidos, tentar-se-á justificar a existência das duas estruturas sintáticas com semântica sinonímica e, consequentemente, a cronologia dos factos: de acordo com os registos escritos (desde o século XIII até à atualidade), procurar-se-á observar qual é a mais antiga e qual aparece posteriormente, bem como a frequência de uso no português europeu (PE), no português do Brasil (PB) e no galego, de cada uma delas. Para o enquadramento teórico, utilizaremos os princípios defendidos por Mattos e Silva (1989; 2008, vols. I e II) e, metodologicamente, para a recolha dos dados, utilizaremos os corpora on-line disponibilizados por algumas equipas de investigação.
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