O objetivo deste artigo é discutir as potencialidades sígnicas do poema simbolista de Alphonsus de Guimaraens (1870-1921) "Ismália" (1923, publicação póstuma), retrabalhado em formato livro-objeto, dado que o artista-pesquisador Odilon Moraes traz uma proposta muito convidativa à leitura de uma edição ilustrada de
El objetivo de este artículo es discutir las potencialidades sígnicas del poema simbolista de Alphonsus de Guimaraens (1870-1921) “Ismália” (1923, publicación póstuma), reelaborado en forma de libro-objeto, dado que el artista-investigador Odilon Moraes presenta una edición de
The aim of this article is to discuss the sign potentialities of the symbolist poem by Alphonsus de Guimaraens (1870-1921) "Ismália" (1923, posthumous publication), reworked in book-object format, given that the artist-researcher Odilon Moraes brings a very inviting proposal to the reading in an illustrated accordion edition of Ismália, thus resignifying a literary classic of the twentieth century. In this work, previously published by Cosac Naify (2006 and 2014) and, today, by Sesi-SP (2018), Moraes creates a graphic design that enhances the sonority of the poem from an aesthetic-playful game with the folds of the paper and the arrangement of images on the "pages", giving new rhythms to the reading that becomes, in the handling of the object, performative. Believing that the textual architecture of this poetic artifact enables the interest of students for a text with almost 100 years, it is proposed a mediation work with the book in question in the light of the following theoretical basis: Derdyk (2013), Martins and Silva (2020), Palo (2019), Zumthor (2005), Carrión (2011), Navas (2019), Navas and Ramos (2020), among others.
“na velha arte o escritor escreve textos. na nova arte o escritor faz livros”.
No século XXI, cada vez mais, tem-se visto a publicação de obras literárias que convidam à interação com o objeto, intensificando a experiência leitora em razão de estímulos visuais, táteis e sonoros. Publicações nos mais diversos formatos e com
Em razão da diversidade de formas de experimentar a arquitetura textual, o objeto livro pode receber diferentes nomes: livro
Essa tendência, que se vê nas últimas décadas, não é exatamente uma novidade, pois já despontava no universo livreiro desde 1770, com Robert Sayer. Contudo, ganha força mais adiante, como lembram
A adição de "qualquer coisa mais" aos produtos culturais e, ao livro, em especial, na atualidade, radica num processo evolutivo do livro-objeto, composto por três momentos nodais e em sincronia com o movimento de generalização do design, isto é, do século XIX até a Primeira Guerra Mundial, da década de 1950 até fins dos anos 1970 e vigente desde a década de 1980 até os dias de hoje.
É observando esses processos de constante ressignificação do formato códice, muito comum nos livros de artista, que Ulisses Carrión escreve, em 1975,
Esse novo modo de se fazer e, consequentemente, de se ler os livros impacta as noções de autoria, bem como os protocolos sacralizados de leitura:
Para ler a velha arte basta conhecer o alfabeto. Para ler a nova arte devemos apreender o livro como uma estrutura, identificar seus elementos e compreender sua função. [...] Na velha arte todos os livros são lidos da mesma maneira. Na nova arte cada livro requer uma leitura diferente. Na velha arte, ler a última página leva tanto tempo quanto ler a primeira. Na nova arte o ritmo da leitura muda, aumenta, acelera. (
Como se percebe, então, a figura do autor, quase sempre atrelada ao escritor, é alargada para um profissional que pensa a obra como um todo, articulando palavra, imagem e
Vale pontuar que, nem sempre, o fazedor de livro é também o
O trabalho que ora se apresenta pretende refletir acerca da possibilidade de que uma leitura de "Ismália", poesia de Alphonsus de Guimaraens (1923), a partir do poema/livro-objeto, de Odilon Moraes (2006), ilustrador e autor do projeto-gráfico, desperte em leitores mais jovens (não só mas também) o prazer por conhecer uma poesia clássica da literatura simbolista brasileira. Em razão dos aspectos lúdicos, plásticos, sensoriais e interativos presentes neste conjunto híbrido e "escultórico" de linguagens, crê-se no potencial de sedução para uma leitura performática, pois:
[...] com ilustrações erigíveis sofisticadas e mecanismos elaborados, características que fazem desses volumes, cada vez mais, objetos de entretenimento, capazes de surpreender leitores de distintas idades e que transformaram, significativamente, o objeto livro que hoje conhecemos. (
Para apreciar melhor a obra de Alphonsus de Guimaraens e Odilon Moraes, traz-se, a seguir, uma leitura analítica da poesia simbolista "Ismália", do poeta mineiro, cuja obra, como um todo, foi uma das mais altas expressões dessa estética artístico-literária no Brasil do final do século XIX e início do século XX.
Solidão, loucura, desilusão, nostalgia, amor e religiosidade são algumas temáticas constantes e intensamente laboradas na lírica metrificada, rimada e musicalizada do poeta simbolista mineiro Alphonsus de Guimaraens (1870-1921). Abalado pelo falecimento precoce de sua noiva, como assinalam alguns autores que o estudaram (
A poesia "Ismália" foi publicada inicialmente, em 1910, no Jornal
Odilon Moraes é ilustrador e autor do projeto gráfico de
O próprio movimento do olhar leitor, percorrendo as "páginas", ora para cima (céu), ora para baixo (mar), cria, a partir de um
É importante ressaltar, como expõe Odilon Moraes, em capítulo intitulado "O livro como objeto e a literatura infantil", publicado na obra
Todo suporte traz em si qualidades análogas ao tipo de registro que sustenta. Se a literatura guarda, de sua origem, a estreita relação com a oralidade, não por acaso nossa cultura adotou o livro para suporte de literatura. Assim como ela, o livro como objeto guarda em sua estrutura uma sequência que dá ordem à narrativa. Nos livros, as páginas organizam esse tempo de leitura, enquanto as imagens e letras organizam o tempo interno de cada página. A forma do livro chegou ao que é pelas necessidades da própria literatura, calcada na exploração dessa temporalidade. Toda a estrutura física desse objeto permite a simulação do tempo. (
E o tempo da personagem Ismália, no poema narrativo
Pensando nas três edições, duas da Cosac Naify (2006/2014) e uma da Editora do
[...] revelador das potencialidades criativas da estética contemporânea exatamente pela exploração da dimensão lúdica que decorre da sua existência material e interativa, alterando a relação do leitor com o livro. [...] o grau de liberdade do processo de leitura é claramente amplificado, permitindo (exigindo!) avanços e recuos nas páginas, tirando partido da espontaneidade do leitor e da sua iniciativa no contato direto com a matéria de que são feitos os livros, crucial do ponto de vista da sua construção e estrutura. (
Diante de tudo isso, cabe perguntar: de quem seria a autoria de
Ao se apropriar de
[...] o livro-objeto como um produto híbrido, [é] composto pela simultaneidade da narrativa literária, das narrativas imagéticas, sensoriais, além de uma dimensão prática tátil, ‘escultórica’, a qual evidencia a relevância do design em seu processo de construção de sentidos. Partindo-se dessa acepção, o livro-objeto ultrapassa a linguagem verbal, constituindo-se como um objeto visual, tátil, e mesmo sonoro, olfativo, trazendo para esse objeto um conteúdo essencial ligado à sua materialidade.
É sobre esse desafio de leitura para os jovens leitores que a seção à frente irá se debruçar.
No século passado, o livro para crianças e jovens, de forma geral, era associado a um conjunto de folhas com registro verbal a serem viradas a cada página lida e, na maior parte dos casos, com algumas ilustrações esparsas, muitas vezes, apenas como adorno. Embora no Brasil, desde o período lobatiano, já houvesse certa preocupação com a ilustração que acompanha o texto literário, o chamado
Muitos autores, em parceria com ilustradores ou eles mesmos autores-ilustradores, passaram a tornar independentes texto verbal e texto pictórico. Ou seja, sem ela, a imagem, trata-se de uma outra obra (
Alphonsus de Guimaraens é comumente estudado como um escritor representativo do movimento simbolista no Brasil, informam as histórias da literatura. Para os poetas simbolistas, as realidades sensoriais eram representadas pela intersecção entre artes, música, literatura, pintura etc. (
Guimaraens é mineiro de Ouro Preto, mas passou boa parte de sua vida isolado em Mariana, onde hoje existe, na casa onde viveu, o museu Alphonsus de Guimaraens. Sua poesia, conhecida como "crepuscular", apresenta como temáticas a dor pela perda de sua amada, Constança (quando ela era muito jovem), a pena de si mesmo e a morte. Em seus versos, sempre "chorosos", cadentes e ricamente rimados, tudo parece ser deslocado para uma interpretação sonhada, mística e até cristianizada do mundo. Seu próprio nome aparece em uma de suas poesias, "Catedral", em forma de litania, e se repete como um refrão a ecoar sonora e tristemente na mente do leitor:
Entre brumas, ao longe, surge a aurora/ O hialino orvalho aos poucos se evapora, / Agoniza o arrebol. / A catedral ebúrnea do meu sonho/ Aparece, na paz do céu risonho, / Toda branca de sol.// E o sino canta em lúgubres responsos:/ “Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus! (
Assim como a sugestão imagética da "catedral ebúrnea" surge toda branca de sol, em "Ismália" o leitor se depara com a torre onde a personagem, já ensandecida, se põe a sonhar:
Quando Ismália enlouqueceu / Pôs-se na torre a sonhar... / Viu uma lua no céu / Viu outra lua no mar. // No sonho em que se perdeu / Banhou-se toda em luar... / Queria subir ao céu / Queria descer ao mar... // E num desvario seu / Na torre pôs-se a cantar / Estava perto do céu / Estava longe do mar // E como um anjo pendeu / As asas para voar... / Queria a lua do céu / Queria a lua do mar... // As asas que Deus lhe deu / Ruflaram de par em par... / Sua alma subiu ao céu / Seu corpo desceu ao mar... (
A escolha da palavra "torre" pode apresentar vários significados e sugerir algumas possibilidades de leitura, ancoradas em
A lua é um símbolo dual, de certa forma contraditório, "[...] é para o homem o símbolo da passagem da vida à morte e da morte à vida; ela é até considerada, entre muitos povos, o lugar dessa passagem, a exemplo dos lugares subterrâneos" (
"[...] é a morada dos deuses bons depois de sua morte. Levam aí uma vida que não é nem divina, nem feliz, mas, contudo, isenta de preocupação, até a sua segunda morte. Porque o homem deve morrer duas vezes". Assim a Lua é morada dos humanos entre a desencarnação e a segunda morte, que será o prelúdio do novo nascimento. (
Se possível for pensar por esse viés de leitura, Ismália (cujo nome significa "Deus ouve" ou "Deus ouvirá" e ainda é provável que seja uma variante de Ismaela, feminino de Ismael, que significa "ele ouvirá"
"Estava perto do céu, / estava longe do mar...", são dois versos paradoxais sob o ponto de vista da escolha de Ismália, embora ambos conduzam à dúvida existencial e à tomada de decisão da personagem para o mesmo lugar, o fim: "E como um anjo pendeu, As asas para voar...[...] / Sua alma subiu ao céu, / Seu corpo desceu ao mar". Há ainda referência ao sagrado quando o leitor se depara com "anjo", "asas", Deus ("As asas que Deus lhe deu /Ruflaram de par em par"). Apesar de ser para o alto que Ismália decide ir, apenas no sonho, na imaginação e na visão turva da possibilidade de alçar voo é que se encontra a decisão tomada. A realidade é anunciada e selada pelos versos finais "Sua alma subiu ao céu, / Seu corpo desceu ao mar...".
De antíteses a paradoxos, o leitor é conduzido por um ambiente de sandice, cuja decisão final sobre a vida é coerente com todo o percurso dual que o poema percorre. A solução para o drama existencial de Ismália só pode ser encontrada em outra esfera. Os próprios verbos, todos no pretérito, indicam a impotência já diante da vida, quando o futuro não pode ser mais vislumbrado. Nessa peleja existencial, a morte do corpo e a salvação da alma triunfam como paradoxo final: a alma de Ismália subindo ao céu e seu corpo repousando no mar. A busca pelo descanso eterno parece ter sido atingida.
Essa poesia é considerada, segundo estudiosos como Abdala Júnior (1995), uma das mais altas expressões do Simbolismo no Brasil, em especial, pela presença marcante da musicalidade em seus versos e proporcionada pelas rimas alternadas em todas as estrofes. O ritmo lento e derramado que a leitura delas imprime vai ao encontro da loucura que invade Ismália. As reticências presentes ao final de alguns versos precisam ser respeitadas porque contribuem para intensificar a dúvida existencial que o poeta atribui à personagem. Todo o ritmo parece pensado para contribuir com a atmosfera diáfana e translúcida que flui ao longo da leitura do poema, levando o leitor a participar da cena que ele parece presenciar. A poesia, assim, além de narrativa, torna-se performática. Para
Quanto à presença, não somente a voz, mas o corpo inteiro está lá, na
É nessa perspectiva de Zumthor que a obra de Guimaraens e Moraes,
Odilon Moraes é paulistano, nascido em 1966. Ainda pequeno mudou-se com os pais para o interior do estado. Voltou à capital para cursar Arquitetura. Acabou, por questões pessoais, se aproximando da ilustração e desde então acumula os mais diversos prêmios literários como o Jabuti. Completou, em 2021, trinta anos de carreira como ilustrador/escritor/fazedor de livro e, para comemorar, publicou uma obra apenas sobre ilustrações que ele produziu durante a pandemia que assolou o mundo em 2020/2021.
É importante recuperar aqui um pouco sobre o livro em questão. Não se parece, à primeira vista, com as obras que os leitores estariam comumente acostumados, já que ela vem inserida em uma luva como se fosse uma pequena caixa de presente. Na primeira edição da Cosac Naify
Ao ser retirado da luva, o exemplar literário não apresenta páginas tradicionais, mas sim 23 dobras, criando uma longa concertina. Na capa e quarta capa em tom bege das edições de 2014 e 2018, há elementos que remetem ao texto verbal, indiciando o estado emocional de Ismália, que deseja se libertar do cárcere dos sentimentos contraditórios. Na versão da Cosac Naify, tem-se a lua e a personagem em queda. Já na do Sesi-SP, uma flor, desenhada a bico de pena, que remete à lembrança de um lírio (talvez à palavra que aparecia na primeira versão da poesia: "Como um lírio pendeu, / a imagem para voar").
As capas reforçadas não são gratuitas, afinal, o próprio suporte, que aqui também é linguagem, precisa ser firme para resistir às várias manipulações que o leitor fará do livro toda vez que for lê-lo. Para contribuir com a resistência do material, a gramatura do papel do miolo também é diferenciada, por isso optou-se por
Ao retirar o livro do invólucro, o leitor é convidado a uma leitura atravessada pelo experimentar que começa na escolha de como ler esse livro-objeto: tanto simulando um "virar de páginas", como "soltando" o livro de modo que as 23 dobras "caíam" à moda de uma cascata. Isso sem considerar outras maneiras inventivas que o jogo lúdico pode oportunizar.
No manuseio do artefato literário, o jovem leitor pode vir a perceber que a musicalidade é reforçada pelo arranjo palavra-imagem-
Dessa forma, o leitor já começa a tomar contato com a dualidade antitética e paradoxal que perpassa todo o poema simbolista (1923) e se faz materializada na obra de Guimaraens e Moraes (2006/2014/2018). Essa arquitetura textual, que seduz pelo inusitado formato do livro, convida o leitor a acompanhar de perto o devaneio de Ismália que vai se desvelando na alternância de estados psicoemocionais. Ao aceitar essa espécie de imersão no poema-narrativo que se (des)dobra, o leitor assume uma leitura performática em que o corpo é convocado a interagir.
Nessa experimentação dos elementos constituintes, as cores chamam a atenção do leitor, o que pode ser explorado pelo mediador em uma roda de conversa apreciativa: o que o branco e suas variantes, bem como o marrom em seus variados tons terrosos, podem significar? Como a escolha cromática se relaciona com o campo semântico do poema?
Nesse movimento de inferir e levantar hipóteses a partir do diálogo entre palavra e imagem, o jovem leitor pode perceber como a técnica da aquarela, utilizada na composição das ilustrações, valoriza o cenário soturno atravessado por uma lua cheia, onde se encontra Ismália, ao mesmo tempo em que reforça o ambiente sorumbático e envolvido pelos fantasmas da loucura, da morte e da dúvida existencial que habitam o interior da personagem.
Tais percepções afinadas alargam as possibilidades de significação, como é o caso da existência de "molduras" nas dobras, uma "não", outra "sim", até o final. Segundo
Observando a primeira página dupla, verifica-se a presença de uma moldura em branco, a qual limita o campo visual e sugere que o leitor esteja assistindo à cena através de uma janela. Na segunda dupla, nota-se que a moldura é retirada, inserindo o leitor dentro da cena e ampliando, portanto, seu campo de visão. Esse movimento de inserção e retirada de molduras se repetirá ao longo de toda a obra, provocando a sensação no leitor de ser puxado para dentro e para fora do cenário.
Ao se debruçar sobre esses detalhes, outros conhecimentos de mundo acabam sendo mobilizados, como aqueles ligados ao universo cinematográfico. Quando comparam páginas com e sem molduras, por exemplo, os leitores podem notar que naquelas com molduras há sempre uma cena em "close", marcada por um verbo de ação, que é executado por Ismália: "pôs-se", "banhou-se", "pôs-se" (novamente), "pendeu", "ruflaram". Já naquelas sem a moldura, cada uma dessas cenas pode ser ampliada e refletida pelas ilustrações que representam as antíteses marcantes da poesia "céu x mar", "subir x descer"; "lua do céu x lua do mar"; "alma x corpo"; "subiu ao céu x desceu ao mar". Abaixo, um exemplo:
Observando as capas duras que abrem e fecham o poema/livro-sanfona, pode-se pensar nelas como as portas da prisão que sufocam a personagem Ismália no interior da torre, local de onde ela estaria “louca” para sair.
Há também a possibilidade de tecer diálogos com outras histórias, como
É também possível buscar a música "Ismália", de Emicida (participação de Larissa Luz e Fernanda Montenegro), cuja letra o
As provocações, que nascem do diálogo da poesia com outras artes, aguçam processos cognitivos e sensório-perceptivo-corporais, intensificam a compreensão da dualidade presente nos versos e abrem para reflexões humanas: será que o suicídio é a melhor saída para lidar com as angústias existenciais? É possível uma fuga das dores que assolam o ser por meio da imaginação, do sonho e do devaneio? A literatura possibilita expurgo dos sentimentos ou refúgios, dando asas às inquietudes da vida? Quais outras Ismálias podem ser encontradas na contemporaneidade, como sugeriu Emicida na música?
Levar textos literários clássicos para a sala de aula é sempre um desafio que precisa ser encarado pelo professor-mediador. A discussão que aqui se procurou desenvolver com a obra de Guimaraens e Moraes (2006/2014/2018) pretendeu mostrar que é possível, a partir de uma proposta de exploração das materialidades desse objeto livro e de conversas apreciativas, oportunizar o alargamento das camadas de significação da poesia simbolista de Alphonsus de Guimaraens.
A opção de Odilon Moraes por conceber a obra em formato sanfona, como apresentado, já convida o leitor a manusear o livro-objeto, transgredindo protocolos de leitura sacralizados. Ao experimentar formas de ler
Por meio de uma experiência estética, lúdica e performática, o leitor inter-ativo, como um coautor, explora sentidos (da leitura e do corpo), atualizando um poema com quase 100 anos. Isso, com certeza, diminui a resistência de se ler um texto clássico. No mais, como bem lembra o próprio Odilon Moraes:
O trabalho do escritor se finda no livro, mas é pelo objeto que o leitor colocará a obra em andamento, a completará a partir do outro lado. Assim, para a literatura, atentar ao espaço físico do objeto é sugerir ao leitor uma condução desejada para a leitura da obra. (
Sendo assim, em tempos de multimodalidades, multisemioses e mídias digitais, encontrar alternativas para aproximar o leitor do século XXI de um clássico do início do século XX é sempre uma boa maneira de dar início a um processo de mediação de leitura.
A primeira edição de
Segundo Carlos Ceia, em
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Na primeira edição da Cosac Naify, foram impressos 3.000 exemplares, sendo 50 numerados e assinados por Odilon Moraes
A edição do Sesi-SP mantém as mesmas características da última da Cosac Naify. Neste artigo, utiliza-se a publicação de 2018 como referência.
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